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terça-feira, 9 de outubro de 2012

Mulheres relatam abusos cometidos por médico.



M., 24, tem pesadelos recorrentes com exame de toque vaginal. Há dois meses, toma antidepressivos e frequenta psicólogo. E se esforça para esquecer da primeira consulta ginecológica.

M. e a mãe L., 49, foram as primeiras de um grupo de 11 mulheres que relataram à polícia terem sido vítimas do médico Rogério Pedreiro, 48, preso em 31 de agosto. O caso corre sob sigilo. A Folha falou com cinco delas.

Justiça já negou dois pedidos para soltar médico

Em depoimento, o médico, que atuava como ginecologista e ultrassonografista, negou as acusações. Disse que foram exames e consultas normais. Ele segue preso.

A arrumadeira Almira da Rocha Oliveira, 43, reconheceu Pedreiro ao vê-lo em uma reportagem na TV e foi à delegacia denunciá-lo. "Enfim, confirmei minhas cismas."

Ela --a única que autorizou a divulgação do nome e imagem-- diz que frequentava a clínica do médico, em Moema (zona sul), desde 2009.

Almira fez, com ele, cinco exames de ultrassom transvaginal para monitorar miomas. "Em todas as vezes, ele perguntou se eu sentia prazer quando colocava o aparelho. Era esquisito, mas eu pensava: 'Alzira, abre a cabeça. É pergunta de médico'."

Ela diz ter estranhado o fato de o médico não usar luvas e nem fornecer avental às pacientes durante o exame.

O relato da vendedora V., 35, é semelhante. Ela diz que, em 2004, procurou o médico porque queria engravidar.

"Durante o exame de toque vaginal, ele perguntou se eu sentia prazer quando ele me tocava. Respondi que não."

V. conta que, no início, pensou ser uma pergunta "normal". Mas, ao voltar 15 dias depois para fazer um ultrassom, a situação se repetiu.

"Ele colocou o aparelho na vagina, ficou mexendo com a mão e perguntando se eu sentia prazer. Respondi brava: 'Não estou sentindo nada'. Ele parou na hora."

Depois disso, só vai à "ginecologista mulher".

Em 2006, a atendente J., 29, procurou o médico para fazer um ultrassom transvaginal. "No exame, ele perguntou se eu sentia prazer fácil. Fiquei sem graça e disse que, se fosse com o meu marido, eu sentia. Ele colocou o aparelho e perguntou: 'E assim?' Eu disse: 'Tá machucando'. Aí ele parou. Não voltei mais."

EXAME DEMORADO

M. e a mãe se consultaram com Pedreiro no mesmo dia, 18 de junho. A primeira a entrar na sala foi a mãe. "No exame de toque vaginal, ele ficou, ficou [com o dedo na vagina]. Nunca fiz um exame tão demorado", diz L.

Já M. relata que, ao entrar na sala do médico, levou uma bronca pela demora em procurar um ginecologista.

"Primeiro, ele colocou o dedo na vagina e ia apalpando aqui embaixo [região pélvica]. Depois, pegou no meu braço e disse: 'Você tem bastante hormônio. Não sente vontade de se masturbar?'". M. saiu da sala e não falou nada para a mãe. "Fiquei com vergonha."

Dias depois, comentou com uma amiga. "Ela disse que ginecologista não fala essas coisas." Foi aí que M. contou para os pais. "Ela sentia desespero, culpa, raiva. Ficou agressiva", lembra a mãe.

O pai relata que quase "perdeu a cabeça". "Pensei em invadir o consultório e quebrar a cara dele." A mãe diz que a família não quer indenização. "Só que ele pague pelo o que fez", afirma.

CLÁUDIA COLLUCCI
 DE SÃO PAULO


A fé em perigo

Dia 11 de outubro próximo, tem início o Ano da Fé, estabelecido pelo Papa Bento XVI. A data coincide com a comemoração dos 50 anos da abertura do Concílio Vaticano II e dos 20 anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica.

 Quando estava em Roma, no ano 2001, assisti admirado, na Praça de São Pedro, à chegada de milhares de fiéis do movimento Kolping, vindos da Alemanha, sobretudo homens, cantando com entusiasmo contagiante. Comentei então com um Cardeal alemão que estava ao meu lado: "Diante disso, Eminência, não se pode dizer que a Alemanha não seja um país católico!" Ele, porém, observou, acalmando um pouco o meu entusiasmo: "É, mas a Fé sempre corre perigo!". Era o Cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.

O Papa tem se mostrado preocupado com a crise da Fé: "Desde o princípio do meu ministério como Sucessor de Pedro, lembrei a necessidade de redescobrir o caminho da fé para fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo... Sucede não poucas vezes que os cristãos sintam maior preocupação com as consequências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé, considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida diária. Ora, tal pressuposto não só deixou de existir, mas frequentemente acaba até negado. Enquanto, no passado, era possível reconhecer um tecido cultural unitário, amplamente compartilhado no seu apelo aos conteúdos da fé e aos valores por ela inspirados, hoje parece que já não é assim em grandes sectores da sociedade devido a uma profunda crise de fé que atingiu muitas pessoas. Não devemos aceitar que o sal se torne insípido e a luz fique escondida... Devemos readquirir o gosto de nos alimentarmos da Palavra de Deus, transmitida fielmente pela Igreja, e do Pão da vida, oferecidos como sustento de quantos são seus discípulos..." (Carta Apostólica Porta Fidei, pela qual Bento XVI proclama o Ano da Fé).

Nesse momento, reúne-se com o Santo Padre em Roma a XIII Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, tendo por tema "A nova evangelização para a transmissão da fé cristã".

O que moveu o Papa a essa nova evangelização ele já havia lembrado no discurso inaugural da Conferência do CELAM, em Aparecida: "Percebe-se certo enfraquecimento da vida cristã no conjunto da sociedade e da própria pertença à Igreja Católica". Na mesma linha, os Bispos do CELAM escreveram: "O Santo Padre nos responsabilizou ainda mais, como Igreja, na grande tarefa de proteger e alimentar a fé do povo de Deus... Nas últimas décadas vemos com preocupação, que numerosas pessoas perdem o sentido transcendental de suas vidas e abandonam as práticas religiosas... Não resistiria aos embates do tempo atual uma fé católica reduzida a uma bagagem, a um elenco de algumas normas e de proibições, a práticas de devoção fragmentadas, a adesões seletivas e parciais das verdades da fé, a uma participação ocasional em alguns sacramentos, à repetição de princípios doutrinais, a moralismos brandos ou crispados que não convertem a vida dos batizados. Nossa maior ameaça é o medíocre pragmatismo da vida cotidiana da Igreja, no qual, aparentemente, tudo procede com normalidade, mas na verdade a fé vai se desgastando e degenerando em mesquinhez" (Documento de Aparecida, n. 7, 12, 100 f).

Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

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