MENOS DA METADE DOS PROFESSORES DE
ESCOLAS PÚBLICAS LEEM NO TEMPO LIVRE
Mariana Tokarnia - Repórter da Agência Brasil
Brasília - Um cabo de vassoura que era capaz
de falar e sentir era o protagonista do primeiro livro lido pela então
adolescente Denise Pazito. Hoje, professora e pedagoga no Espírito Santo, ela
fala da experiência em seu blog. "O livro foi indicado pela escola.
Provavelmente, eu estava no 4° ou 5° ano. Ele se chamavaMemórias de um Cabo de
Vassoura e o seu autor era Orígenes Lessa. Professora inspirada a minha.
Acertou na mosca. Uma história encantadora. Me encantou pelo mundo das
letras."
Mas assim como são capazes de encantar, os
professores têm em suas mãos o poder de desencantar, não por intenção, às vezes
por desconhecimento. Uma pesquisa feita pelo QEdu: Aprendizado em Foco, uma
parceria entre a Meritt e a Fundação Lemann., organização sem fins lucrativos
voltada para educação, mostra que menos da metade dos professores das escolas
públicas brasileiras tem o hábito de ler no tempo livre.
Baseado nas respostas dadas aos questionários
socioeconômicos da Prova Brasil 2011, aplicados pelo Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), e divulgados em agosto
do ano passado, o levantamento do QEdu mostra que dos 225.348 professores que
responderam à questão, 101.933 (45%) leem sempre ou quase sempre, 46.748 (21%)
o fazem eventualmente e 76.667 (34%), nunca ou quase nunca.
No caso de Denise, a leitura levou essa
prática para as salas de aula, no entanto, muitos brasileiros terminam o ensino
básico sem ler um livro inteiro. Para além da falta do hábito de leitura, a
questão pode estar ligada a infraestrutura. Continue lendo...
"O número de professores que não leem é
chocante, mas isso pode estar ligado ao acesso. É preciso lembrar que faltam
bibliotecas e que um livro é caro. Um professor de educação básica ganha em
média 40% menos que um profissional de ensino superior. Acho que faltam
políticas de incentivo. Não acredito que seja apenas desinteresse", diz a diretora
executiva do movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz.
Um levantamento divulgado em janeiro pelo
movimento mostra que o Brasil precisa construir 128 mil bibliotecas escolares
em sete anos para cumprir uma lei federal que vigora desde 2010. Segundo a
pesquisa, faltam 128 mil bibliotecas no país. Para sanar esse déficit até 2020,
deveriam ser erguidos 39 espaços por dia, em unidades de ensino públicas e
particulares. Atualmente, a deficiência é maior nas escolas públicas (113.269),
o que obrigaria a construção de 34 unidades por dia até 2020.
Para Priscila, uma possível solução seriam os
livros digitais. O Programa Nacional de Formação Continuada em Tecnologia
Educacional (ProInfo Integrado) do Ministério da Educação distribui
equipamentos tecnológicos nas escolas e oferece conteúdos e recursos
multimídia.
Além disso, o governo facilita o acesso aos
conteúdos por meio da distribuição de tablets, tanto para professores quanto
para estudantes. No ano passado, o MEC transferiu R$ 117 milhões para 24 estados
e o Distrito Federal para a compra de 382.317 tablets, destinados inicialmente
a professores do ensino médio.
Sobre o acesso digital, os dados do
levantamento do QEdu mostram que 68% dos professores (148.910) que responderam
à pergunta usam computador em sala de aula. O estado com a maior porcentagem é
Mato Grosso do Sul: 95% dos professores disseram que usam o equipamento. O
Maranhão é o estado com a menor porcentagem (50,5%) de professores fazem o uso
do computador. É lá também onde se constatou a maior porcentagem de escolas
onde não há computadores: 38,3%. Estão no Sudeste, no entanto, as maiores
porcentagens dos professores que acreditam não ser necessário o uso de
computador nas salas: Minas Gerais (16%), Rio de Janeiro (15,4%) e São Paulo
(15%).
O responsável pelo estudo, o coordenador de
Projetos da Fundação Lemann, Ernesto Martins, diz que o país vive uma época de
inovações no ensino e de incorporação dos meio digitais, como disse
recentemente em palestra no Brasil o professor norte-americano Salman Khan, que
usa o meio digital para promover acesso ao ensino. "Existem muitos
desafios no país ligados a problemas de infraestrutura. Não apenas de acesso às
máquinas, mas de acesso à internet, à qualidade dos sinais", disse.
Ao recepcionar o professor norte-americano, o
ministro da Educação, Aloizio Mercadante, ressaltou a importância dos meios
digitais: “O conteúdo ao qual o filho dos mais ricos tem acesso pode ser dado
aos menos servidos de educação. Queremos tornar a educação não algo escasso, mas
um direito humano que todas as pessoas possam ter”, disse. (Edição: Tereza
Barbosa)
Por: ZEZO FERREIRA
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