Familiares estão sendo orientados a levar o próprio oxigênio para evitar a morte por asfixia de parentes internados.
O Hospital
28 de Agosto, maior pronto-socorro de Manaus, está com as portas fechadas e
precisou de ajuda da Polícia Militar para evitar tumulto na entrada. Familiares
estão sendo orientados a levar o próprio oxigênio para evitar a morte por
asfixia do parente internado. Há relato de pacientes que morreram na maca da
ambulância por falta de atendimento.
"Há
pessoas morrendo na maca da ambulância porque não tem como entrar no hospital.
Estamos aqui para atender e sofremos também", disse o médico José
Francisco dos Santos, supervisor de cirurgia no hospital há 35 anos. "A
Polícia Militar está em frente à maioria dos hospitais para tentar manter a
ordem e evitar a invasão. Estão achando que é o médico que não está deixando
entrar. Não é verdade. O médico está lá dentro tentando manter os pacientes
vivos. A má gestão da saúde do Estado é que deixou chegar a esse ponto", acrescentou.
A unidade
possui 52 leitos de UTI e todos estão ocupados. São ao menos cem pacientes,
entre enfermaria e unidade de tratamento intensivo, com necessidade de
oxigenação. De acordo com Santos, a situação de calamidade é semelhante em
muitos outros hospitais públicos e particulares. No 28 de Agosto, chegou uma
nova remessa de oxigênio, mas é insuficiente para manter o fluxo do local na
normalidade.
"Temos
pedidos de cirurgia de urgência para pacientes que complicaram por covid. Mas
temos que esperar o oxigênio chegar para poder botar o paciente na sala. O
oxigênio é fundamental para manter um hospital em funcionamento."
Santos
contou que há médicos que estão optando pela solução de diminuir fluxo de
oxigênio para todos e assim atender mais doentes e evitar a morte por asfixia.
"É uma medida de emergência, mas que também tem consequências. Os
pacientes ficarão com sequelas pois permanecerão por muito tempo com fluxo
baixo de oxigênio. Continuamos em pé de guerra."
Dos cinco
andares do 28 de agosto, quatro foram destinados aos pacientes internados pelo
coronavírus. O consumo diário de oxigênio no hospital é de 2 a 3 metros cúbicos
por hora. A capacidade foi reduzida a um quarto nos últimos dias, segundo
Santos.
Na
quinta-feira, 14, com a nova explosão de casos de covid no Amazonas, o estoque
de oxigênio acabou em vários hospitais de Manaus, levando pacientes internados
à morte por asfixia, segundo relatos de médicos que trabalham na capital
amazonense. O governo federal anunciou que vai transferir pacientes para outros
Estados e pediu ajuda aos Estados Unidos com o fornecimento de um avião
adequado para levar cilindros a Manaus.
Fonte:
Estadão
15/01/2021
18h 55min Atualizada em 15/01/2021 19h 18min
Por: Moisés
Sodré
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