Visto
por setores do PT como virtual candidato à Presidência em 2014, o governador de
Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, afirma que o partido
da presidente Dilma Rousseff a atrapalha mais do que o PSB.
Campos
diz, contudo, que apoiará a eventual campanha de reeleição de Dilma, insinuando
que seu projeto de poder é para 2018.
Nas
últimas semanas, PSB e PT romperam em Recife, Fortaleza e Belo Horizonte.
Folha
- Que crise é essa do PSB com o PT?
Eduardo
Campos - Não damos dificuldades para o governo Dilma. Significa que nosso
partido vai ser satélite do PT? Não é da nossa história, nem da nossa política.
É
essa a raiz da discórdia, não querer ser satélite do PT?
O
que tem Fortaleza a ver com Belo Horizonte? São Paulo a ver com Recife? O PSB
agora virar inimigo oculto do PT chega a ser ridículo. Ser colocado como
inimigo número um e a gente ver históricos adversários virarem amigos de
sempre. Está errado.
Marcelo Camargo - 21.set.2011
/Folhapress
O
PSB, liderado pelo governador Eduardo Campos, enfrenta momento de crise com o
aliado PT
O
PSB, liderado pelo governador Eduardo Campos, enfrenta momento de crise com o
aliado PT
O
senhor está falando de Paulo Maluf [que se aliou ao PT em São Paulo]?
Estou
falando de muitos outros, não só do Maluf. Você vê em Curitiba: Gustavo Fruet
[ex-tucano e ex-deputado de oposição] virar o melhor amigo do PT, e o PSB virar
o inimigo? Nós não vamos fazer o jogo de alguns, que querem afastar de Dilma
aqueles que têm mais identidade com o governo dela.
O
sr. está falando do ex-ministro José Dirceu?
De
todos. Se estiver nisso, falo dele também. A história que nos trouxe até aqui
não deve colocar dúvida na cabeça do presidente Lula, nem na minha, nem na da
presidente Dilma sobre a qualidade da relação que temos.
Mas
chegou perto, né? Ele chegou a ter essa dúvida...
Vamos
ter que ter paciência para esperar a história daqui pra frente. Quem viver
2014, verá. Porque eu já vi muita gente ser subserviente, agradável, solidária
em meio de mandato e, quando bate a primeira crise, muda imediatamente de lado.
Como nunca mudamos de lado, eu sei onde vou estar em 2014.
Onde?
Do
lado que sempre estive. Acho que o PSB deve em 2014 apoiar Dilma para se
reeleger presidente.
O
sr. não será candidato...
E
quem disse que eu seria?
Seus
correligionários...
Toda
vez que fui candidato, eu disse que era candidato. Ser candidato contra Dilma
só porque eu quero ser? Ela está na Presidência e tem a prerrogativa da
reeleição. Para a reeleição de Dilma, o problema não somos nós.
Qual
é o problema?
O
próprio partido dela [o PT] cria mais problema para ela do que o PSB. No
sentido que vocês noticiam e no sentido de tentar tirar de perto dela quem pode
ajudá-la.
Se
a economia erodir a popularidade da Dilma e Lula não for candidato, o sr. sai
para a Presidência?
Não
trabalho com essa hipótese. Temos debates muito mais importantes do que
[debater] quem será prefeito dessa ou daquela cidade. O que está em jogo é o
ciclo de expansão econômica com inclusão social. O consumo ainda pode dar algum
resultado, mas chegou a hora de fazermos um grande esforço para alavancar
investimentos públicos e privados. Essa que é a pauta brasileira, não essa
futrica.
O
PSB está avançando nos Estados, no Congresso. Vocês pedirão a vice do PT em
2014?
Nunca
fizemos isso. Agora mesmo, em São Paulo, o PT escolheu a [deputada Luiza]
Erundina [do PSB, para vice do petista Fernando Haddad]. Lula buscou um quadro
da minha geração, o Haddad. Se fôssemos o inimigo número um do PT, não teríamos
sido os primeiros a apoiá-lo. Colocamos a vice que o PT entendia que era a que
mais ajudava, a Erundina.
Ela
não ajudou muito...
Quando
ela saiu, liberamos Haddad para escolher o nome que quisesse. Foi isso que
fizemos com largueza de coração.
Com
tanta frustração, o que o segura ao lado do PT?
Não
vou sair desse itinerário. Temos uma frente política construída há muitos anos,
que ajudou o Brasil a melhorar. Claro que minha relação com o presidente Lula,
que eu conheci ainda menino, a ajuda que ele me deu e a meu Estado eu prezo
muito.
O
PT diz que o senhor é uma espécie de monstro criado por Lula, que o ajudou
muito com recursos.
Pago
preço do ciúme que muitos têm. Mas Lula sabe também que conta conosco. Em 1989,
[o avô de Campos, Miguel] Arraes era governador de Pernambuco, tendo voltado de
16 anos do exílio, e o PT gritava na porta do palácio: "Arraes, caduco,
Pinochet de Pernambuco". Mas isso não impediu meu avô de abraçar a
primeira eleição de Lula, porque nós não fazemos política tendo como referência
a guerra de espaço, de aparelhar, de ter uma garrafa a mais [no governo]. Nossa
referência na política é o interesse do povo e do país.
O
PT aparelha?
Não.
Estou dizendo que somos diferentes, formas diferentes de pensar, ver o mundo.
Você não pode imaginar que o Brasil deste tamanho vai ter um partido único, que
vai ser dono da verdade, dono do poder, dos 5.000 municípios, dos 27 Estados,
do Brasil, por um século. Você não pode imaginar que esse seja o projeto do
povo brasileiro. É bom que tenha alternância de poder. É importante ter a perspectiva
do contraditório.
Em
2014 serão 12 anos de PT no poder. É muito?
Acho
que dá para ter 16. Eu só, não. A sociedade também está achando. Como o PSDB
está em São Paulo há 16 anos.
E
está bom 16 anos de PSDB em São Paulo?
O
povo achou que sim.
Dá
para ter 20 anos de PT?
Vinte?
Há um ciclo que vai se abrir no Brasil depois de 2014. É um ciclo até
geracional, tanto na oposição quanto no campo do governo. Agora, atropelar isso
em nome de projeto pessoal não é uma coisa correta. Dilma está presidente da
República sem nunca ter pedido para ser candidata.
A
base aliada reclama de Dilma. O senhor faz algum reparo ao estilo dela?
Ela
tem a base muito ampla. Acho que não há dificuldade insuperável. Vamos ajudá-la
a proteger o Brasil da crise. Não podemos permitir que joguem a presidente
nesse debate da eleição municipal.
Mas
ela entrou na articulação de Belo Horizonte.
Em
BH eu compreendo, da mesma forma que ela compreende minha articulação aqui em
Recife. Precisamos dar força a ela para o governo ganhar [na economia] o ano de
2012. Dilma não tem por que jogar carga ao mar.
É
um pedido para ela não ajudar Humberto Costa [candidato petista de Recife]?
Não.
Tem coisas que não se pede, eu sei que ela é justa.
Se
2014 é o ano da Dilma, e 2018 será um novo ciclo, não há mais espaço para o
Lula?
Lula
sempre terá espaço. Agora, o que eu tenho ouvido dele é que o seu grande
objetivo é ajudar Dilma a se reeleger.
NATUZA
NERY
ENVIADA
ESPECIAL A RECIFE
Folha.com
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