EL PAÍS
21 JUN 2018 - 16:44 BRT
Vários
açougueiros com cães sacrificados no mercado de Yulin, nesta quinta-feira
TYRONE SIU / REUTERS
Mais
uma vez neste ano, desafiando proibições e alertas sanitários, a cidade chinesa
de Yulin realiza nesta quinta-feira, coincidindo com
o solstício de verão, seu Festival da Carne de Cachorro e Licor de
Lichia, onde milhares de cães serão sacrificados para serem preparados e
devorados pelo público. No passado, costumava-se abater 10.000 cachorros
durante o festival, mas nos últimos anos a cifra se reduziu para cerca de mil,
segundo os organizadores. Mesmo assim, no mundo ocidental, onde o cão é
considerado o melhor amigo do homem, as imagens de cachorros enjaulados,
decapitados, assados e destrinchados são difíceis de digerir.
O
festival de Yulin, na região autônoma de Guangxi (sudeste), por enquanto
resiste à lei que proíbe
a venda de carne de cachorro em restaurantes, mercados e outros
comércios do país, assim como à mobilização de muita gente contrária à matança.
Milhões de assinaturas (a última contagem somava 12 milhões) foram recolhidas
na China e no resto do mundo para acabar com o sacrifício maciço de cães.
Um
simples passeio pelo mercado Dashichang basta para conhecer a magnitude da
matança. Cães e gatos (estes em menor quantidade) se amontoam em jaulas nas
bancas, ou já sacrificados nos açougues, e são exibidos assados. Além disso, é
fácil ver tanto pessoas comendo-os e brindando com licor como ecologistas e
animalistas comprando animais ainda vivos para salvá-los. Um cachorro custa
cerca de 45 reais neste mercado.
Esta foto
do mercado é desta terça-feira.PAK YIU / AFP
O que muitos
desconhecem é que grande parte dos cães que acabam servidos neste festival são
obtidos ilegalmente, pois costumam ser animais que vivem nas ruas ou foram
roubados de seus donos. “Existem graves riscos para a saúde pública associados
aos cães roubados que são abandonados e não vacinados e que podem hospedar
doenças, inclusive a raiva. Ou mesmo que sejam envenenados com cianureto pelos
ladrões e que posteriormente entrem na cadeia alimentar”, disse a diretora da
organização Animal Asia, Jill Robinson, à agência Efe.
Gatos e
cães à venda no mercado.PAK YIU / AFP
A
conscientização social sobre o “mercado negro” criado por este festival também
está presente nas ruas de Yulin, onde há cartazes nos quais se lê: “Resista ao
festival da carne de cachorro e resgate os cães”. Não há na China uma
legislação que proteja esses animais, cada vez mais populares como mascotes
entre a crescente classe média local, e nem sequer a circunstância de que 2018
seja um ano do cachorro, segundo o horóscopo chinês, serve para estimular essa
proteção.
Os
defensores do festival afirmam que comer cachorro – 10 milhões desses animais
são consumidos por ano na China, segundo as organizações defensoras dos animais
– é uma tradição na região de Guangxi, e que não é diferente de se alimentar de
outras espécies criadas para esse fim. Apesar da crença popular de que na China
se come carne de cachorro de maneira generalizada, ela só é consumida em
algumas áreas do sul do país, como Guangxi, Guizhou e Cantão, e em áreas do
nordeste habitadas pela etnia coreana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário