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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Em plebiscito, eleitor do Pará rejeita criação de Estados, mas expõe divisão.

O 'não' à divisão do Pará foi a opção vitoriosa no plebiscito realizado ontem, no qual os eleitores foram consultados sobre a formação de dois novos Estados. Com 99,7% das urnas apuradas, os contrários à criação de Tapajós (região oeste) tinham 66% dos votos. Os que se opuseram a Carajás (sul) chegaram a 67%.
A vitória por larga margem da frente que defende a manutenção do atual território esconde diferenças regionais marcantes. A proposta de divisão foi abraçada com entusiasmo pelos eleitores das áreas que poderiam se separar. Em Santarém, principal cidade da região oeste do Estado, a criação de Tapajós teve quase 99% dos votos. Em Marabá, a frente pró-Carajás conquistou 93% dos eleitores.
Mas essas duas cidades, juntamente com as demais das regiões separatistas, concentram apenas 35% do eleitorado paraense - ou seja, na prática, a consulta foi decidida pelos 65% que estão em Belém ou áreas próximas e que, durante a campanha, demonstraram contrariedade com a perda de território e recursos naturais resultante de uma eventual divisão. Na capital, o 'não' conquistou 95% do eleitorado.
Após a confirmação do resultado, o governador do Pará, Simão Jatene (PSDB), contrário a criação dos novos Estados, reconheceu a legitimidade das reivindicações dos separatistas por mais investimentos, principalmente em saúde e educação (leia texto nesta página).
O deputado federal Zenaldo Coutinho (PSDB-PA), coordenador da frente pelo 'não', disse que os paraenses 'agora se veem melhor'. Para ele, o plebiscito chamou a atenção dos moradores das áreas mais centrais sobre as carências das regiões mais pobres e com menos infraestrutura.
Recurso à Justiça. Na tentativa de contornar o problema da escassez de eleitores, os separatistas recorreram ao Supremo Tribunal Federal (STF), pedindo que o plebiscito ocorresse apenas em Tapajós e Carajás. No final de agosto, porém, o tribunal decidiu que todo o Pará deveria ser consultado.
Para os defensores do 'sim', foi uma derrota judicial e também política. Segundo o deputado Zenaldo Coutinho, a tentativa de alijar Belém e cidades próximas praticamente unificou esse eleitorado contra a proposta separatista.
'Quiseram fazer tudo na surdina, nós nos sentimos traídos', afirmou o deputado, que durante os últimos quatro mandatos na Câmara promoveu manobras para impedir ou ao menos adiar a realização do plebiscito.
Com o início do horário de propaganda na televisão, há um mês, as frentes pró-Tapajós e pró-Carajás fizeram programas voltados à conquista do eleitorado da capital e arredores, mas a resistência à proposta de divisão só aumentou, conforme pesquisas feitas desde então. A campanha dos separatistas na televisão foi coordenada pelo marqueteiro Duda Mendonça, que tem fazendas na região de Carajás.
Do lado oposto, não foi difícil para os defensores da manutenção do atual território difundir as teses de que a divisão deixaria o Pará mais fraco, pois o Estado perderia o controle dos recursos naturais - principalmente minério - abundantes no sul.
'Eles (os separatistas) queriam ficar com tudo, menos com as dívidas do Pará', disse Rosinaldo Gonçalves, motorista de caminhão e morador da capital, que ontem votou pelo 'não'.
Tranquilidade. Na capital paraense, os eleitores encontraram poucas filas e votaram com rapidez, já que só era necessário digitar dois números - uma resposta sobre a eventual criação de Tapajós e outra sobre Carajás. Muitos votaram vestindo a camisa vermelha com o desenho da bandeira do Pará - item cuja venda explodiu em lojas e bancas de camelôs a partir do início da campanha do plebiscito.
Após a confirmação da vitória, a frente pelo 'não' deu início a uma comemoração nas ruas da região central da cidade.
Gastos. Segundo o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Ricardo Lewandovski, que viajou para Belém a fim de acompanhar a apuração, a votação ocorreu sem incidentes em todo o Estado.
O ministro disse que foi preciso substituir algumas urnas defeituosas, mas afirmou que em nenhuma seção houve necessidade de colher os votos em cédula de papel. Segundo ele, o custo do plebiscito para a Justiça Eleitoral é estimado em R$ 19 milhões.
Ele monitorou a votação do TRE e se disse satisfeito com a tranquilidade do plebiscito, que definiu como um 'momento histórico e de prova de consolidação da democracia no Brasil'.



Por DANIEL BRAMATTI, ENVIADO ESPECIAL / BELÉM, estadao.com. br,

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