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terça-feira, 27 de março de 2012

Brics omitem-se em indicação para Banco Mundial.

A presidente Dilma Rousseff chegou nesta terça-feira a Nova Déli para participar na quarta e na quinta da úpula dos Brics, já sabendo que esse grupo das cinco grandes economias emergentes não lançará nem apoiará candidato à presidência do Banco Mundial.

O anúncio foi feito por Sudhir Vyas, secretário de Assuntos Econômicos do Ministério indiano de Relações Exteriores, e confirmado por delegados brasileiros à cúpula dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

O fato de não haver candidato comum ou apoio conjunto não significa que cada país do grupo não possa apoiar um dos três nomes já lançados. A África do Sul, por exemplo, fechou com a ministra nigeriana de Economia, Ngozi Okonjo-Iweala, que, aliás, tem o apoio de todos os países africanos.

Os outros dois candidatos são o ex-ministro colombiano José Antonio Ocampo e o norte-americano de origem coreana, Jim Yong Kim, lançado diretamente pelo presidente Barack Obama. Pela tradição do Banco desde a sua criação em 1944, a presidência cabe a um indicado dos Estados Unidos, assim como o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional é escolhido pela Europa.

Os Brics já haviam se omitido na escolha do sucessor do francês Dominique Strauss-Khan no FMI, depois que este foi abatido por um escândalo de natureza sexual.

Omitem-se de novo agora, depois que Robert Zoellick anunciou seu afastamento, embora o objetivo inicial do grupo fosse exatamente o de modificar o gerenciamento do sistema econômico-financeiro mundial, a cargo do Banco Mundial e do FMI.

MÉRITO

A embaixadora Maria Edileuza Fontenele Reis, principal negociadora brasileira nos BRICS, não acha que seja exatamente uma omissão. "Não se trata de um problema de nomes, mas de mudar a maneira de escolher os líderes dessas instituições. Deveria ser por mérito e não por critério geográfico", diz.

Mas, em conversas informais, diplomatas brasileiros deram a entender que acabará prevalecendo, também no Banco Mundial, o critério tradicional - e geográfico, com a eleição de Yong Kim. "Se algum país quiser que o presidente Barack Obama perca a eleição votará em outro candidato", brincou um deles com a Folha.com.

É uma alusão ao óbvio fato de que, se os Estados Unidos perderem, com Obama na presidência, um posto que ocupam há 67 anos, será um vexame tão formidável que ele não será reeleito.

Pius Utomi Ekpei/Bruno Domingos/France Presse/Reuters      

A ministra da Nigéria Ngozi Okonjo Iweala, indicada pelos países africanos, e o acadêmico e ativista Jim Yong Kim, apoiado pelos americanos.

Os Estados Unidos, além da tradição, contam com o fato de que são os maiores acionistas do Banco Mundial, com 16,41% das cotas e, por extensão, dos votos. Somados os principais países ricos que se alinham com os norte-americanos nessa matéria, chega-se a 37,3% dos votos. São Japão, Alemanha, Reino Unido e França.

OS Brics, atualmente, têm apenas 10% das cotas mas já há um acordo no âmbito do G20, as maiores economias mundiais, para aumentar a porcentagem para 16%. Ainda assim, os cinco ficariam com poder de fogo igual ao de um só país, os Estados Unidos.

Esse predomínio norte-americano e europeu nas grandes instituições financeiras multilaterais levou a Índia, anfitriã da quarta cúpula dos BRICS, a propor a criação de um banco de desenvolvimento do próprio grupo, uma espécie de BNDES dos Brics.

O encontro de quarta e quinta até encampará a proposta, mas na forma de criação de um grupo de trabalho para estudá-la e não do lançamento imediato do banco BRICS. O estudo "levará tempo", já avisa a embaixadora Maria Edileuza.

CRISE EUROPEIA

A discussão econômica da cúpula acabará centrada de novo na crise europeia. Os BRICS têm sido sondados para aumentar seu aporte ao Fundo Monetário Internacional, que, por sua vez, daria respaldo financeiro aos países europeus atolados em dívidas.

Mas, para que o aporte de fato ocorra, os Brics querem que, antes, os europeus definam o tamanho do que vem sendo chamado de "firewall"- um muro de proteção para evitar que o contágio da crise grega e portuguesa atinja os grandes países da zona euro, também com problemas, casos de Espanha e Itália.

A omissão dos Brics nos casos do FMI e do Banco Mundial revela claramente como ainda é incipiente a capacidade de coordenação entre os países-membros, que, além disso, têm divergências internas a resolver.

Prova-o outra das propostas para a cúpula, a de um acordo para a concessão de empréstimos em yuan, a moeda chinesa, para os parceiros do grupo.

Parece uma iniciativa simpática, mas "é importante lembrar que os empréstimos chineses vêm atados a condicionamentos", diz Samir Kapadia, pesquisador do Conselho Indiano de Relações Globais.

O Brasil já sentiu o peso dos condicionamentos: a Vale recebeu, em 2010, empréstimo chinês de US$ 1,23 bilhão para a construção de 12 cargueiros.

Aceitou que fossem fabricados na China, para ira do então presidente Lula, na esperança de que os chineses retribuíssem com a permissão para que os navios transportassem grandes quantidades de minério de ferro para a China.

A primeira tentativa fracassou, por pressão das concorrentes chinesas, uma delas a poderosa estatal Cosco.

O tema ainda está em negociações entre os dois governos.



CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A NOVA DÉLI

Fonte: Folha.uol.com

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