CBERS-4, DE OBSERVAÇÃO DA TERRA, É O ÚLTIMO DOS CINCO PREVISTOS EM ACORDO ENTRE OS DOIS PAÍSES
Ilustração mostra o satélite CBERS-4 em
órbita da Terra: lacuna de quase cinco anos na presença brasileira no espaço
Foto: Divulgação/Inpe
Ilustração mostra o satélite CBERS-4 em
órbita da Terra: lacuna de quase cinco anos na presença brasileira no espaço -
Divulgação/Inpe
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RIO - Depois de um hiato de quase cinco anos,
o Brasil poderá finalmente voltar a contar com um satélite próprio de
observação da Terra, equipamento fundamental para políticas como o combate ao
desmatamento, gestão de recursos hídricos e de mudanças no uso do solo. Na
madrugada deste domingo, o país pretende lançar, com a China, o CBERS-4, quinto
e último equipamento de sensoriamento remoto previsto no atual acordo de
cooperação espacial entre as duas nações. O lançamento, marcado para à 1h26 no
horário de Brasília, será feito com o mesmo modelo do foguete chinês Longa
Marcha, o 4B, cuja falha no segundo estágio quase um ano atrás causou a perda
de seu antecessor, o CBERS-3.
Diretor de Política Espacial e Investimentos
Estratégicos da Agência Espacial Brasileira (AEB), Petrônio Noronha de Souza
conta que o acidente com o CBERS-3 demandou um grande esforço dos técnicos da
agência, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da China para
adiantar o lançamento de seu sucessor, inicialmente previsto apenas para o fim
de 2015. Antes, os dois países já tinham lançado com sucesso o CBERS-1 (1999),
o CBERS-2 (2003) e o CBERS-2B (2007).
— Foi um imenso desafio para as equipes fazer
em um ano o que estava previsto para ser realizado em dois — diz. — A falha no
lançamento do CBERS-3 foi um infortúnio, mas tínhamos a alternativa do CBERS-4,
com todos equipamentos necessários para sua montagem praticamente prontos, o
que permitiu acelerar o processo.
Em caso de novo acidente no lançamento do
CBERS-4, no entanto, o cenário é bem diferente, admite Souza. O diretor da AEB,
porém, afirma “nem contemplar esta possibilidade”. Segundo ele, a falha do ano
passado foi pontual e as investigações apontaram que ela foi provocada por um
defeito de fabricação no motor do foguete, já solucionado.
— Desde então, os chineses já fizeram vários
outros lançamentos com o mesmo foguete ao longo deste ano, confirmando a
confiabilidade do sistema. Estou muito esperançoso quanto ao sucesso do
lançamento deste domingo.
Duas câmeras brasileiras
O CBERS-4 repete a configuração do
antecessor, com o Brasil responsável por 50% dos componentes do novo satélite.
Assim, duas das quatro câmeras a bordo foram inteiramente desenvolvidas e
fabricadas no país, pelas empresas Opto Eletrônica e Equatorial: a Multiespectral
Regular (MUX), de média resolução; e a de Campo Largo (WFI), de baixa
resolução, mas ampla visão. Completam a lista as chinesas Pancromática e
Multiespectral (PAN), de alta resolução; e a Multiespectral e Termal (IRS),
também de média resolução e infravermelha, o que permite que faça observações
noturnas. Saíram daqui ainda, a própria estrutura do satélite, o sistema de
fornecimento de energia, o de coleta de dados ambientais e o gravador de dados
digitais.
Com as quatro câmeras do satélite, Brasil e
China terão à disposição uma variada gama de imagens e dados que podem ser
combinados para diversos usos, diz João Vianei Soares, coordenador da área de
aplicações do Programa CBERS (sigla em inglês para “satélite sino-brasileiro de
recursos terrestres”) no Inpe. Ele explica que quanto maior a resolução, menor
a largura da faixa de terra observada pela câmera, o que se traduz em um
período mais longo para a chamada “revisita”, isto é, voltar a observar a mesma
região na superfície do planeta. No caso da MUX e da IRS, ele fica em 26 dias,
enquanto no da PAN chega a 52 dias. Já com a WFI, que pode ver uma faixa de 866
quilômetros, a revisita é de menos de cinco dias, o que faz dela ideal para,
por exemplo, identificar rapidamente casos de desmatamento dentro do sistema
Deter (Detecção de Desmatamento em Tempo Real) da instituição.
— A WFI se presta muito para esta verificação
quase em tempo real do desmatamento, permitindo flagrantes de casos e evitando
um dano maior para o meio ambiente — destaca Soares.
Segundo o especialista, desde a saída de
operação do CBERS-2B, em março de 2010, o Inpe teve que recorrer à compra de
imagens produzidas por satélites estrangeiros, como os americanos Landsat e os
indianos Resourcesat, para seus programas e atender às necessidades do governo
e da sociedade. Com a entrada em operação do CBERS-4, porém, ele espera que o
Inpe volte a fornecer a média de mais de 500 mil imagens anuais captadas mais
de acordo com as necessidades do país.
Falta de recursos crônica
Mas o lançamento do CBERS-4 também representa
um retorno aos holofotes do combalido Programa Espacial Brasileiro, marcado
pela falta de recursos, muitas falhas e uma tragédia, a explosão do protótipo
do Veículo Lançador de Satélites (VLS) em 22 de agosto de 2003 durante um teste
na plataforma da Base Espacial de Alcântara, no Maranhão, que matou 21 pessoas,
entre elas alguns dos principais cérebros que trabalhavam no projeto. Para
Petrônio de Souza, o evento será uma boa oportunidade para acelerar as
negociações, já em curso, de um novo acordo com a China, que hoje toca um dos
mais ambiciosos programas espaciais do mundo.
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— Estamos negociando um plano decenal
conjunto de atividades espaciais que pode envolver outros satélites ou mesmo
uma nova família de satélites com diversos fins — adianta o diretor da AEB, que
não quis prever quando este novo acordo poderia ser fechado.
Enquanto isso, Souza garante que o Brasil
continua a avançar, ainda que lentamente, em seus outros projetos na área,
como, por exemplo, o acesso ao espaço por meios próprios com foguetes como o
VLS; a construção e lançamento Amazônia-1, primeiro de uma nova geração de
satélites nacionais de observação da Terra; e do SABIA-Mar (Satélite
Argentino-Brasileiro de Informações Ambientais Marítimas), de estudos
oceanográficos. Para isso, a AEB espera contar no ano que vem com o mesmo
volume de recursos repassados em 2014, da ordem de R$ 300 milhões, ainda assim
bem abaixo dos indicados no Programa Nacional de Atividades Espaciais, lançado
em 2012 e que previa investimentos de R$ 9,1 bilhões no setor até 2021.
— Com isso, não haverá uma explosão de
atividade, mas conseguiremos manter ritmo de trabalho para continuar a avançar
aos poucos, dentro da realidade brasileira — conclui.
POR CESAR BAIMA
06/12/2014 6:00
http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/brasil-china-lancam-novo-satelite-na-madrugada-deste-domingo-14755791
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