Os brasileiros veem a Amazônia como um
patrimônio do país, acreditam que a preservação da floresta e o desenvolvimento
econômico não são objetivos incompatíveis e afirmam que o desmatamento
prejudica, de alguma forma, suas vidas diárias. Essas são algumas conclusões da
pesquisa “Floresta Amazônica e Alterações Climáticas”, realizada pelo Instituto
Análise com 2.000 pessoas, nas cinco regiões brasileiras.
Quase por unanimidade, 90% dos entrevistados
dizem que o desmatamento da Amazônia é ruim para o desenvolvimento do Brasil,
pois isso reduzirá as chuvas e aumentará as temperaturas. Para a maioria dos
brasileiros, o argumento ambiental prevalece sobre o econômico: 72% dos
entrevistados afirmam que a conservação da Floresta Amazônica é mais importante
do que o desenvolvimento e a criação de empregos na região. Na região Norte,
onde está localizado o bioma e sua população, esse percentual cai para 64%.
As respostas variam pouco conforme a região,
grau de escolaridade de faixa de renda da população, e apontam para uma forte
tendência dos brasileiros a se mostrarem favoráveis à preservação. “É bem
aceita a visão de que preservar a Amazônia não se opõe a gerar empregos e
desenvolvimento. Mais do que isso, a população brasileira é explicitamente a
favor de melhores políticas ambientais e há um amplo consenso a favor da
conservação da floresta”, diz Alberto Almeida, diretor do Instituto Análise.
De acordo com ele, isso é fruto da visão dos
brasileiros das riquezas naturais como parte do patrimônio do país e como
vantagem competitiva em relação ao restante do mundo: 35% das menções a vantagens
brasileiras em relação a outros países estão relacionadas a florestas e
Amazônia e chegam a 52% quando se incluem outros ativos ambientais, como a
biodiversidade e as bacias hidrográficas.
A pesquisa mostra ainda que a preocupação com
a devastação da floresta é presente na vida dos brasileiros: 78% afirmam que o
desmatamento na Amazônia de alguma forma afeta seu cotidiano. Esse impacto do
desmatamento sobre a vida das pessoas aparece como a percepção de que ele traz
alterações climáticas, aumentando a temperatura nas cidades (58% das citações)
e que muda o regime de chuvas (25% das menções).
Os entrevistados mais velhos (acima de 45
anos) têm maior percepção de que o desmatamento afeta suas vidas do que os mais
jovens (81% ante 76% na faixa etária até 44 anos). Compartilham dessa mesma
opinião os entrevistados que têm nível superior de escolaridade: 85% dos que
fizeram cursos universitários responderam que o desmatamento afeta sua vida
diária. O levantamento mostrou ainda que existe uma percepção generalizada de
que o desmatamento está aumentando (68% afirmaram que sim) e 61% acreditam que
a tendência é que continue a aumentar.
A evidente preocupação com o desmatamento
pode ter uma expressão política e eleitoral: 30% dizem que o compromisso de
proteger a Amazônia será decisivo na sua escolha eleitoral e só votarão em um
candidato que apoia publicamente a conservação da floresta, enquanto 28% dizem
que é de grande importância para a sua escolha. Por outro lado, 5% disseram que
votariam em candidatos que se opõem à conservação, e 21% dizem que a oposição à
conservação seria um fator considerável em sua escolha eleitoral.
“Provavelmente a questão ambiental não é um fator que vá decidir as eleições
presidenciais, mas parte da amostra se mostra sensível a avaliar as propostas
dos candidatos nesse campo”, diz Almeida.
Quando o assunto é a construção de
hidrelétricas na Amazônia ou a expansão da agropecuária, a visão
preservacionista é mantida. Na visão de 76% dos entrevistados, o Brasil não
deveria construir mais usinas hidrelétricas porque eles acreditam que existem
outras formas de gerar energia com menor impacto ambiental. Apenas 16%
consideram as hidrelétricas como uma boa alternativa de geração de energia
renovável.
Para esta pergunta, a metodologia do estudo
dividiu a amostra em dois recortes, mas os resultados foram semelhantes para os
dois grupos, com pequenas variações regionais. No quesito expansão da
agricultura, 59% da amostra mencionam que a agropecuária brasileira deve ocupar
áreas ociosas e já desmatadas – número que é ainda maior na região Norte, onde
77% dos entrevistados pensam dessa maneira. Mas 36% da população da região Sul
se diz contrária à expansão agropecuária, contra 23% do restante do país.
Apesar da receptividade da população brasileira
às questões ligadas ao meio ambiente mostrada pelos números, os próprios
entrevistados reconhecem que possuem um grau baixo de conhecimento sobre o
tema: apenas dois em cada dez entrevistados se consideram bem informados sobre
as questões ambientais no Brasil.
Há também um certo desconhecimento a respeito
dos povos que habitam a região amazônica: a população indígena é a mais
lembrada espontaneamente (por 80% dos entrevistados), e os ribeirinhos foram
mencionados por 32% da amostra, enquanto apenas 8% citaram os quilombolas.
O mesmo se repete quando o tema é o Código
Florestal: 84% dos brasileiros afirmam não conhecer a lei, mas acreditam que
dar prioridade à preservação, mesmo que isso prejudique a produção agropecuária
é importante para sete em cada dez entrevistados. Para 64% da amostra, o
fazendeiro que desmatar ilegalmente não deve ir preso, mas sim replantar área
equivalente à que for desmatada.
A pesquisa do Instituto Análise foi realizada
ao longo do mês de maio e foi encomendada pela Aliança pelo Clima e Uso da
Terra (Clua, na sigla em inglês), iniciativa que reúne várias organizações
internacionais do terceiro setor, como a Fundação Ford, Climate Works e
Fundação Gordon e Betty Moore e está em processo de estruturação de sua atuação
no Brasil.
Por: Andrea Vialli
Fonte: Valor Econômico
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