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sexta-feira, 27 de junho de 2014

CRONOLOGIA DA LEI DO CAVALO DE TRÓIA, NO 12.845/2013


1988 - A Fundação MacArthur decide vir ao Brasil financiar um trabalho de controle de 
crescimento populacional. 
1989 - Luiza Erundina, do Partido dos Trabalhadores, assume a prefeitura de São Paulo e 
estabelece o primeiro serviço brasileiro de abortos em caso de estupro, no Hospital do Jabaquara, 
na zona sul da cidade, iniciando uma rede que deveria ser o principal fundamento do projeto para 
tornar o aborto completamente livre no Brasil. 
1990 - Em maio de 1990, a Fundação MacArthur chega ao Brasil e através da assessoria de 
cidadãos como Elsa Berquó, Ruth Cardoso, Sonia Correa, Aníbal Faundes, Felícia Madeira e Marta 
Suplicy, inicia seu programa de trabalho destinado, entre outros, a legalizar o aborto no país. 
1990 - A Fundação Ford propõe, através do relatório intitulado “Saúde Reprodutiva, uma 
Estratégia para os anos 90”, a criação dos novos conceitos de saúde sexual e direitos 
reprodutivos. Para alcançar o crescimento populacional zero, pretende-se desmotivar a formação 
da família e o desejo de ter filhos. O objetivo será alcançado através da educação sexual precoce, da 
alteração do status da mulher na sociedade, e da mudança dos valores morais pelos quais as 
decisões reprodutivas são tomadas pelos indivíduos e pela sociedade. O relatório propõe 
reconceitualizar a saúde e a doença não apenas como estados biológicos, mas como processos 
relacionados aos modos como vivem as pessoas, criar os conceitos de saúde e direitos sexuais e 
reprodutivos, empoderar as organizações de mulheres para promover a saúde reprodutiva, 
financiar a promoção de debates e disseminar informações para definir áreas de consenso e 
promover o reconhecimento do aborto como um direito reprodutivo. 
1991 - Os deputados Eduardo Jorge e Sandra Starling, do PT de São Paulo e de Minas Gerais, 
apresentam à Câmara dos Deputados o projeto de lei PL 20-1991, que pretende estender 
imediatamente, a todos os hospitais do SUS, a obrigação de realizar abortos em casos de violência, 
segundo os procedimentos descritos nas normas internas criadas pelo Hospital do Jabaquara. 
1992 - No Rio de Janeiro, com o apoio da Fundação Ford, organizações feministas de todo o mundo 
encontram-se para decidir como dominar a Conferencia Populacional do Cairo que será realizada 
em 1994 e fazê-la aceitar as orientações do relatório da Fundação Ford “Saúde Reprodutiva, 
uma Estratégia para os anos 90”. 
1993 - Sob a coordenação de organizações dirigidas pelo banqueiro David Rockefeller, uma parte 
do empresariado e da elite política americana passa a apoiar politicamente os movimentos de 
esquerda, principalmente na América Latina, em troca de não declarar a moratória da dívida 
externa, da deposição da luta armada pelo poder e do apoio ao movimento homossexual, à 
legalização do aborto e à educação sexual liberal. 
1993- É instituída, pelo governo brasileiro, a Comissão Intersetorial de Saúde da Mulher (CISMU), 
subordinada ao Conselho Nacional de Saúde. 1994 - A Conferencia de População do Cairo, promovida pelas Nações Unidas, faz suas as diretivas 
do programa da Fundação Ford intitulado “Saúde Reprodutiva, uma Estratégia para os 
anos 90”, habilmente introduzidos de modo a preparar, em um futuro próximo, o reconhecimento 
do aborto como direito humano. Entre as diretrizes da Conferência podem ser mencionadas: (A) o 
conceito de saúde reprodutiva, considerada como algo mais do que a simples ausência de 
doenças; (B) os direitos reprodutivos, que derivam do conceito de saúde reprodutiva, como um 
novo tipo de direito humano, que poderia incluir o direito ao aborto; (C) a obrigação dos 
governos de dispensar um tratamento humanizado às mulheres que praticaram 
abortos, inclusive clandestinos; (D) a urgência das ONGs, ainda que não sejam 
constituídas por profissionais da saúde, de cooperar, supervisionar (e pressionar) 
os governos na prestação dos serviços de saúde reprodutiva, (incluindo serviços de aborto legal); 
(E) a necessidade de considerar os efeitos do aborto clandestino como um problema 
de saúde pública (e, portanto, não mais como um crime); (F) o direito das mulheres ao 
acesso a serviços de qualidade para tratar as complicações decorrentes dos abortos, 
(incluindo os abortos clandestinos). 
1994- Dr. Aníbal Faúndes, professor de Ginecologia e Obstetrícia na Unicamp e membro 
permanente do Population Council, declara ao jornal Folha de São Paulo que “ensina às 
mulheres como usar remédios abortivos para praticarem elas mesmas um aborto”. 
1995 - A Conferência sobre a Discriminação contra a Mulher, promovida pela ONU em Pequim, 
retoma as diretivas da Conferência do Cairo, acrescentando “a possibilidade de revisar as leis 
que prevêem medidas punitivas contra as mulheres que realizaram abortos ilegais”. 
1995 - A Fundação Rockefeller hospeda, em abril, no seu Centro de Conferências de Bellagio, no 
Lago de Como, na Itália, 24 especialistas de todo o mundo para redigirem a publicação da 
“Declaração de Consenso sobre a Contracepção de Emergência” e a fundação de um 
consórcio internacional de entidades para a difusão da contracepção de emergência. A declaração 
afirma que os médicos e indústrias relutavam em disponibilizar a contracepção de emergência, 
apesar de conhecida há pelo menos três décadas, e que recomenda sustentar insistentemente que a 
contracepção de emergência não é abortiva. A Declaração também propõe desencadear amplo 
trabalho de promoção e propaganda entre a população mais jovem, incluir a contracepção de 
emergência nos programas de planejamento familiar, nas listas de medicamentos essenciais e no 
currículo das escolas de saúde. 
1996 - Em uma conferência secreta realizada em Glen Cove (NY), vários Comitês da ONU 
estabelecem um pacto com as principais organizações que promovem o aborto para interpretar os 
direitos humanos reconhecidos pelas nações como contendo implicitamente o direito ao aborto e 
passam a acusar sistematicamente os paises que penalizam o aborto, principalmente na América 
Latina, de violarem o direito humano à vida reconhecido internacionalmente. 
1996 - O governo de Fernando Henrique Cardoso, seguindo as recomendações da Conferência do 
Cairo no sentido de permitir que as ONGs, ainda que não sejam constituídas por profissionais da 
saúde, possam cooperar, supervisionar (e pressionar) os governos na prestação dos serviços de 
saúde reprodutiva, reorganiza a Comissão Intersetorial da Saúde da Mulher (CISMU), pertencente 
ao Conselho Nacional da Saúde, rearticulando-a de modo a que passe a contar com uma forte 
presença de feministas. 
1996 - É realizado, em Campinas, no mês de novembro, o Iº Fórum Interprofissional para 
Implementação do Atendimento ao Aborto Previsto na Lei. A iniciativa, contando com 
apoio financeiro da Fundação MacArthur e da Fundação Packard, parte do Dr. Aníbal Faúndes, 
funcionário, desde 1977, do Population Council de Nova York, e professor da UNICAMP e no 
CEMICAMP (Centro Materno Infantil de Campinas). O Fórum continuaria a ser realizado todos os anos, até a XVIIª versão ocorrida em 2012. Em 1996 havia 4 hospitais que realizavam abortos em 
casos de estupro no Brasil: o Hospital do Jabaquara em São Paulo, o Centro de Assistência Integral 
à Saúde da Mulher (CAISM-UNICAMP) em Campinas, o Instituto Municipal da Mulher Fernando 
Magalhães no Rio de Janeiro, o Hospital Pérola Byington em São Paulo. O Primeiro Fórum 
publicou as rotinas e recomendações destes quatro hospitais para a realização de abortos legais 
como uma diretriz a ser seguida para os demais que viessem a somar-se à rede. Segundo o Fórum, 
“seria recomendável que a idade gestacional máxima para aprovar a solicitação de 
interrupção da gravidez fosse de até 12 semanas completas”. O aborto legal, portanto, 
somente seria praticado até as 12 semanas de gestação. 
1997 - Em agosto a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprova o PL 
20/1991 que obriga os hospitais do SUS a oferecer abortos em casos de estupro. A reação imediata 
da CNBB, dos próprios deputados e da população em geral, exigindo que o projeto fosse votado 
também no plenário da Câmara, mostrou que o projeto jamais seria aprovado. 
1997 - A CISMU, percebendo que o PL 20/1991, que por iniciativa do deputado Salvador Zimbaldi, 
teria agora que ser votado no plenário da Câmara antes de seguir para o Senado, jamais seria 
aprovado, encaminha, em novembro, uma resolução solicitando que a equipe do Ministério da 
Saúde preparasse uma Norma Técnica para regulamentar os serviços de aborto na rede do SUS. 
1998 – Segundo levantamento realizado pelo IIIº Fórum Interprofissional para 
Implementação do Atendimento ao Aborto Previsto na Lei, existem 15 hospitais de 
aborto legal no Brasil: em Belém, João Pessoa, Brasília, Belo Horizonte, Campinas e Botucatu, 1 
hospital em cada cidade; em Recife, São Paulo e Porto Alegre, 2 hospitais em cada cidade; no Rio de 
Janeiro, 3 hospitais. 
1998 - Uma menina conhecida por C.B.S., de 10 anos, é estuprada em Israelândia, no interior do 
Estado de Goiás. Apesar de principal suspeito do crime, o pai da menina é claramente a favor do 
aborto. Mas, já com 18 semanas de gestação, os hospitais que oferecem serviços de aborto em 
Goiânia, Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, um após o outro, seguindo as recomendações 
dos fóruns sobre o atendimento ao aborto previsto na lei, recusam-se a realizar o procedimento, 
argumentando o estado avançado da gravidez e o risco a que a gestante seria submetida. Jorge 
Andalaft, diretor do serviço do Hospital do Jabaquara, envia aos pais da menina, através da 
imprensa, o recado de que poderia realizar o aborto se fosse possível trazer a paciente até São 
Paulo. Carlos Massa, apresentador do “Programa do Ratinho” no SBT, que já havia 
transformado o caso em um grande espetáculo midiático, patrocina a viagem e a estadia da família 
no hotel cinco estrelas Hilton Brasilton de São Paulo. Mesmo contra o parecer de alguns dos 
próprios diretores do Hospital do Jabaquara, sob os holofotes da cobertura de todos os principais 
jornais, rádios e redes de televisão do país, Jorge Andalaft, realiza, no dia 3 de outubro, o 
primeiro aborto em caso de estupro em uma menor grávida de quase cinco meses. 
Embora o principal suspeito do estupro fosse o próprio pai, Andalaft recusa-se seguidamente a 
enviar o feto abortado para a realização dos exames de DNA. 
1998 – Alguns dias após o aborto de C.B.S. no Hospital do Jabaquara, o Ministro da Saúde José 
Serra publica a Norma Técnica sobre o Tratamento dos Agravos à Violência contra a 
Mulher, tendo o Dr. Jorge Andalaft como principal redator. Apesar do nome amplo, seu principal 
objetivo é regulamentar os serviços de aborto em casos de estupro. O documento dispensa a mulher 
de apresentar exame de corpo de delito para comprovar o estupro e solicitar um aborto, exigindo 
apenas a apresentação de um Boletim de Ocorrência, que pode ser obtido em qualquer delegacia de 
polícia sem necessidade da apresentação de provas. Para surpresa dos próprios médicos que 
trabalham nos serviços de aborto, o caso C.B.S. havia criado o ambiente político para que a norma 
ampliasse o prazo em que poderia ser realizado o procedimento de 12 para 20 
semanas de gestação.1999 - Realiza-se o quarto fórum para a implementação do atendimento ao aborto previsto na lei, 
que, seguindo a estratégia agora adotada pela Norma Técnica do aborto, passa a ser chamado de 
Fórum Interprofissional sobre Atendimento da Mulher Vítima de Violência Sexual. 
2000 - O quinto fórum sobre o aborto previsto na lei passa a ser chamado de Fórum 
Interprofissional para Atendimento Integral da Mulher Vítima de Violência Sexual. 
2002 - Fernando Henrique Cardoso publica, no dia 13 de maio de 2002, o Segundo Plano Nacional 
de Direitos Humanos (PNDH 2), em que, seguindo as recomendações da Conferência de Pequim de 
1995, estabelece, como meta de número 179, “apoiar o alargamento dos permissivos para 
a prática do aborto legal, em conformidade com os compromissos assumidos pelo 
estado brasileiro no marco da plataforma de Ação de Pequim”. 
2002 - Em abril 72 bispos e arcebispos brasileiros, incluindo dois cardeais, enviam uma carta 
coletiva ao Senado pedindo o adiamento das discussões e a rejeição do protocolo da Conferencia de 
Pequim da ONU de 1995. Em maio o arcebispo de Botucatu, Dom Aloysio José Leal Penna, na 
época presidente da Comissão Pastoral para a Vida e Família da CNBB, representando em 
audiência pública no Senado brasileiro a Conferência Episcopal, afirma que o documento escrito no 
mês anterior por 72 bispos, denunciando o protocolo, não era a posição oficial da CNBB e que, na 
verdade, “havia sido um erro”. Após a ratificação do Senado, o arcebispo declarou à Rádio 
Vaticana que o protocolo da Conferencia de Pequim (CEDAW) “não tinha nada a ver com 
temas de aborto ou vida, tratando-se apenas de um protocolo para o recebimento de 
acusações de violações dos direitos das mulheres”. Graças à CNBB, o Brasil tornou-se o 
primeiro e o único país do mundo onde, com o apoio da Conferência Episcopal Católica, o 
Protocolo do CEDAW foi aprovado e posteriormente amplamente usado para forçar a legalização 
do aborto, apesar do aviso de 72 bispos e da comunidade pro vida nacional e internacional. 
2002 – Segundo levantamento realizado pelo VIIº Fórum Interprofissional para 
Atendimento Integral das Mulheres Vitimas de Violência Sexual, existem 44 hospitais 
no Brasil que oferecem serviços de aborto legal. “Um dado importante”, afirma o Fórum, “é 
que a maior parte dos hospitais que realizam aborto legal, são hospitais de ensino, 
sede da faculdades de medicina federais ou estaduais. O maior número de hospitais 
que dão ao acesso à interrupção da gestação estão no estado de São Paulo, com 13, 
seguido do Rio Grande do Sul e Pernambuco com 4 cada e Minas Gerais com 3”.O 
Fórum constata que apenas em seis estados o serviço não é oferecido: no norte do Brasil, nos 
estados de Roraima, Amapá e Tocantins; no nordeste, nos estados de Piauí e Sergipe; no sul, no 
Estado de Santa Catarina. E conclui: “após varias apresentações que revisaram o tema, os 
participantes reuniram-se em grupos de trabalho onde foram discutidos os 
principais obstáculos para a implantação e funcionamento destes serviços, tanto 
por parte dos próprios hospitais como por parte das Secretarias de Saúde e do 
Governo Federal”.
2004 – O presidente Lula publica o “Plano Nacional de Políticas para as Mulheres”, onde 
afirma que irá seguir as recomendações da Conferência de Pequim e revisar a legislação punitiva 
que trata da interrupção voluntária da gravidez. 
2004 – O Ministro da Saúde Humberto Costa publica uma nova Norma Técnica sobre o 
Tratamento dos Agravos à Violência contra a Mulher, revogando e ampliando a anteriormente 
publicada em 1998. Fica estabelecido que não deve ser exigida nenhuma prova ou documento 
comprovando o estupro para que uma gestante possa pedir um aborto legal. Segundo a nova 
Norma, bastará “a palavra da mulher que busca os serviços de saúde afirmando ter sofrido violência, a qual deverá ter credibilidade, ética e legalmente, devendo ser 
recebida com presunção de veracidade”.
2004 - A Fundação MacArthur publica o relatório “Lessons Learned 1990-2002”, em que 
explica como investiu 36 milhões de dólares para preparar a legalização do aborto no Brasil: “A 
Fundação MacArthur decidiu em 1988 trabalhar no Brasil com questões 
populacionais e de saúde reprodutiva porque seu ambiente político permitiria que 
as ONGs influenciassem a política e a prática. A MacArthur identificou as ONGs que 
poderiam utilizar-se do financiamento externo para desenvolver sua capacidade de 
produzir mudanças. No Brasil, a batalha do aborto se concentrou em alguns 
pontos, entre os quais a criação de um conjunto de leis que permitisse às mulheres 
obter abortos e outros serviços necessários. A maioria dos estudiosos consideram 
um dos grandes sucessos neste sentido foi a expansão dos serviços para vítimas de 
violência de gênero. O primeiro grande salto foi dado em 1989, com o 
estabelecimento em São Paulo do primeiro serviço público que oferecia o aborto nos 
dois casos previstos pela lei. Depois disso outro grande salto ocorreu em 1998, 
quando o Ministro da Saúde, apesar da grande oposição, aprovou as Normas 
Técnicas do aborto legal em casos de estupro. Criou-se um ambiente para uma 
aceitação progressiva de uma legislação mais liberal que incluiria outras 
circunstâncias em que o aborto seria permitido. A Norma Técnica para o aborto em 
casos de estupro e risco de vida para a mãe é considerada por muitos como o 
principal avanço da década em termos de saúde e direitos reprodutivos. A maioria 
dos estudiosos considera que, agora, somente existe uma única reforma principal 
que deve ser tentada: a completa legalização do aborto”.
2004 – O Xº Fórum sobre o aborto previsto na lei passa a ser chamado de Fórum 
Interprofissional sobre Abortamento Inseguro como Forma de Violência contra a 
Mulher. 
2005 - Além da segunda Norma Técnica para os abortos em casos de estupro, o governo Lula 
publica também uma segunda Norma Técnica do Atendimento Humanizado ao Aborto 
Provocado. A norma afirma pretende “estabelecer e consolidar novos padrões 
culturais” na classe médica brasileira, pelos quais os profissionais de saúde possam atender 
humanamente as mulheres que provocaram um aborto reconhecendo-lhes a “dignidade, a 
autonomia e a autoridade moral e ética para decidir, dissociando valores 
individuais, morais, éticos e religiosos, da prática profissional”.
2005 - O XIº Fórum sobre o aborto previsto na lei passa a ser chamado de Fórum 
Interprofissional sobre Violência contra a Mulher e Implementação do Aborto 
Previsto na Lei, nome que passará a ser mantido até a XVIIº versão realizada em Recife em 
2012. 
2005 - O governo Lula compromete-se a legalizar o aborto no Brasil ao apresentar ao Comitê de 
Direitos Humanos da ONU, em 11 de abril, o Segundo Relatório do Brasil sobre o Tratado de 
Direitos Civis e Políticos. No documento pode-se ler: “O atual governo brasileiro assumiu o 
compromisso de revisar a legislação repressiva do aborto. O Código Penal 
estabelece duras penas para quem aborta, exceto em casos de risco iminente para a 
mãe e nas gestações frutos de estupro. A legislação brasileira ainda não se ajustou 
à recomendação da Plataforma de Ação da Conferência Mundial de 1995 sobre a 
Mulher, realizada em Pequim, na qual o aborto foi definido como questão de saúde 
pública. O Governo do Brasil confia que seja corrigido o modo repressivo com que 
se trata atualmente o problema do aborto”. 2005 – É criada pelo governo Lula uma Comissão Tripartite, reunindo os maiores especialistas na 
questão da legalização do aborto, que passa a trabalhar exaustivamente, desde abril até agosto de 
2005, em 10 reuniões realizadas em Brasília, na elaboração do projeto da total despenalização do 
aborto no Brasil. 
2005 - O Governo Lula reconhece o aborto como direito humano perante o Comitê do CEDAW da 
ONU. O governo entrega ao Comitê do CEDAW (a Convenção da ONU para Eliminação de todas as 
Formas de Discriminação Contra a Mulher) o documento intitulado “Sexto Informe Periódico 
do Brasil ao Comitê da ONU para a Eliminação da Discriminação contra a Mulher”, 
onde, às páginas 9 e 10, é reconhecido o aborto como um direito humano da mulher e reafirmada 
novamente a decisão do governo de revisar a legislação punitiva do aborto: “As atividades que o 
Governo Federal brasileiro leva a cabo para combater a desigualdade por motivo de 
gênero ou raça permitem apreciar que ainda falta muito por fazer em defesa e 
promoção dos direitos humanos no Brasil e, mais especificamente, na esfera dos 
direitos humanos da mulher. De importância para este tema é a decisão do Governo 
de encarar o debate sobre a interrupção voluntária da gravidez. Com este propósito 
foi estabelecida uma Comissão Tripartite de representantes dos poderes executivo e 
legislativo e da sociedade civil, com a tarefa de examinar o tema e apresentar uma 
proposta para revisar a legislação punitiva do aborto”. 
2005 - No dia 8 de agosto o presidente Lula envia aos bispos do Brasil, reunidos em Itaici, uma 
carta em que dizia: “Reafirmo nosso compromisso com a dignidade humana em todos 
os momentos e circunstâncias e com a rigorosa proteção do direito dos indefesos. 
Pela fé que recebi de minha mãe e pela identificação com os valores éticos do 
evangelho, reafirmo minha posição em defesa da vida em todos os seus aspectos e 
em todo o seu alcance. Nosso governo não tomará, neste sentido, nenhuma 
iniciativa que contrarie os princípios cristãos”. 
2005 - No dia 27 de setembro o Governo Lula envia, através da Secretaria da Política das Mulheres, 
à Câmara dos Deputados, sob a forma de um substitutivo do PL 1135/91, um projeto de lei, embora 
declare que o aborto será um direito até o terceiro mês da gestação, em seu último artigo revoga 
todos os artigos do Código Penal que definem como crime qualquer tipo de aborto, tornando-a, 
desta maneira, legal durante toda a gravidez, desde a concepção até o momento do parto. A 
armadilha somente seria percebida mais tarde, casualmente, pelos deputados, 10 minutos antes da 
primeira votação na Comissão de Seguridade Social e Família. 
2006 - Em abril a descriminalização do aborto foi oficialmente incluída pelo PT como diretriz do 
programa de governo para o segundo mandato do Presidente Lula: “o governo federal se 
empenhará na agenda legislativa que contemple a descriminalização do aborto”. 
2006 – No dia 27 de setembro, quatro dias antes do primeiro turno das eleições, o próprio 
Presidente Lula incluiu o aborto em seu programa pessoal de governo para o segundo mandato. 
Em um caderno de 24 páginas intitulado “Lula Presidente: Compromisso com as 
Mulheres, Programa Setorial de Mulheres 2007-2010”, apesar da linguagem velada, 
reafirma inequivocamente seu compromisso em legalizar o aborto no Brasil. 
2007 - O 3º Congresso Nacional do PT aprova uma resolução que declara que o Partido “reafirma 
seu compromisso com a defesa da autodeterminação das mulheres, da 
descriminalização do aborto e regulamentação do atendimento a todos os casos no 
serviço público”. Essa resolução, não mais revogada pelos congressos posteriores, tem caráter 
obrigatório para todos os membros do PT, conforme o artigo 128 do Estatuto do Partido. 2007 - Através da Resolução CNS nº 383, de 14 de junho, o Ministro da Saúde José Temporão 
reestrutura a CISMU, que passa a ter como objetivos subsidiar o Conselho Nacional de Saúde na 
avaliação das condições de saúde da mulher, apoiar a mobilização dos Conselhos Estaduais e 
Municipais de Saúde na constituição de Comissões Intersetoriais de Saúde da Mulher no âmbito 
dos conselhos, fortalecer o controle social sobre as ações de saúde para as mulheres propostas pelo 
gestor federal e garantir uma política de saúde para as mulheres que respeite direitos sexuais e 
reprodutivos. A Coordenação Geral da Comissão, que antes não existia, foi atribuída, de modo 
permanente, à Rede Feminista de Direitos Sexuais e Saúde Reprodutiva, organizada no início dos 
anos 90 graças ao apoio da Fundação MacArthur. A Coordenação Adjunta, que antes também não 
existia, foi atribuída, também de modo permanente, à Articulação de Mulheres Brasileiras. A 
CNBB, Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, que antes ocupava uma das vagas, foi 
suprimida da Comissão, entrando em seu lugar novas organizações como a Articulação de 
Organizações de Mulheres Negras Brasileiras, a Liga Brasileira de Lésbicas e a Secretaria de 
Políticas para as Mulheres O Ministério da Justiça, o Ministério da Educação e o Ministério do 
Trabalho, que ocupavam originalmente uma vaga cada um, assim como a CNBB, já não estão mais 
entre os integrantes da Comissão. A Academia Brasileira de Medicina, que ocupava na Comissão 
original outra vaga, foi substituída desde a reforma de 1996 por um representante da FEBRASGO, 
Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, organização cujos representantes, graças ao 
trabalho do IPAS, são amplamente favoráveis ao aborto. Integra também a CISMU a Comissão 
Nacional sobre População e Desenvolvimento, criada em 1995 para representar o compromisso do 
governo com o consenso da Conferência Populacional do Cairo. 
2007 - Em maio a BemFam, filial da IPPF no Brasil, anuncia publicamente que iniciará, em 
Campinas, um serviço de orientação para mulheres que queiram interromper sua gravidez. O 
projeto de Campinas, barrado posteriormente pelo Ministério Público, pretendia implementar um 
serviço de aconselhamento em 15 centros públicos de saúde em toda a cidade, tendo como meta 
atender a interrupção da gravidez de 3.000 mulheres, em um primeiro prazo de 10 meses. O 
projeto iniciaria com um “serviço de aconselhamento”, procurando ajudar as mulheres que 
tivessem uma gravidez não desejada. “Se uma mulher está decidida, o mínimo que 
podemos fazer é informá-la. Não vamos incentivar o aborto, só vamos orientar 
mulheres para que optem pelo mais seguro”, afirma Ney Costa, porta voz da BemFam, 
explicando que um dos métodos “seguros” que serão aconselhados será o uso de um fármaco, 
instruindo as mulheres para que o consigam com seu nome comercial. O Ministro de Saúde, José 
Gomes Temporão declara que o projeto não é uma apologia do crime mas um “direito à 
informação” da cidadania, “dentro da política de direitos sexuais e reprodutivos do 
governo, que é tratar adequadamente, com respeito, dignidade e humanização, as 
mulheres em processo de abortar”.
2008 – O substitutivo do PL 1135-91 é rejeitado, no dia 7 de maio, na Comissão de Seguridade 
Social e Família da Câmara dos Deputados, por unanimidade de 33 votos contra zero. Votado uma 
segunda vez, no início de julho, na Comissão de Constitucionalidade da Câmara dos Deputados, o 
projeto é considerado inconstitucional e reprovado por 57 votos contra quatro. O Ministro da 
Saúde, José Gomes Temporão, representando o governo Lula, declara em seguida à imprensa que o 
governo “não irá descansar enquanto não conseguir a legalização do aborto no 
Brasil, e que o Congresso Nacional não pode continuar sendo conservador numa 
questão que é essencial para a vida das mulheres brasileiras”. 
2009 – Em um júri presidido por Ricardo Berzoini, presidente nacional do Partido dos 
Trabalhadores, e constituído por uma comissão de 38 membros da direção nacional, o Partido dos 
Trabalhadores condena, por unanimidade, no dia 17 de setembro, os deputados federais Luiz 
Bassuma (do Estado da Bahia) e Henrique Afonso (do Estado do Acre), acusados de violarem 
gravemente o Código de Ética do Partido, por terem se posicionado contra o aborto, defendido a 
vida desde a concepção, apresentado vários projetos de lei contra o aborto no Congresso Nacional, terem fundado e liderado a Frente Parlamentar a Favor da Vida e apresentado um requerimento 
pedindo a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar quem estaria 
financiando a promoção do aborto no Brasil. Em comunicado oficial emitido no mesmo dia, o site 
do PT afirma que “o Diretório Nacional do PT, reunido nesta quinta-feira (17), 
analisou os pareceres das Comissões de Ética instauradas contra os deputados 
federais Luiz Bassuma (PT-BA) e Henrique Afonso (PT-AC). Por unanimidade, os 
membros do DN entenderam que os dois deputados infringiram a ética partidária 
ao ‘militarem’ contra resolução do 3º Congresso Nacional do PT a respeito da 
descriminalização do aborto”. Na sentença condenatória, afirma-se que “o Estatuto do PT 
garante a todo filiado o direito de manifestação pública sobre questões 
doutrinárias e políticas”, mas exige que o comportamento dos filiados “se limite ao mero 
exercício do direito à liberdade de expressão”, sendo vedada qualquer “militância 
ostensiva contra a resolução do 3º Congresso Nacional do PT sobre a 
descriminalização do aborto”. 
2009 - O governo Lula decide assinar o Termo de Cooperação nº 137/2009, que permanecerá 
em vigor desde 18 de dezembro de 2009 até 13 de dezembro de 2010, isto é, até depois das eleições 
presidenciais de outubro de 2010. O contrato, segundo o Diário Oficial, prevê o estabelecimento de 
um grupo de especialistas para realizar “estudo e pesquisa para despenalizar o aborto no 
Brasil e fortalecer o Sistema Único de Saúde - SUS”.
2010 - É aprovado, no dia 16 de julho, em Brasília, o documento conclusivo da XIª Conferencia 
Regional sobre a Mulher da América Latina e Caribe, promovida pela CEPAL (Comissão 
Econômica para América Latina e Caribe da ONU) em conjunto com a Secretaria de Políticas para 
as Mulheres do governo Lula. O texto do documento exorta os governos da América Latina a 
legalizarem o aborto, ao pedir a “promoção da saúde integral e os direitos sexuais e 
reprodutivos das mulheres, revisando as leis que prevêem medidas punitivas contra 
as mulheres que tenham cometido abortos”. A versão preliminar do Consenso de Brasília, 
na qual já se recomenda a legalização do aborto em toda a América Latina, é apresentada, no dia 14, 
ao presidente Lula. No dia 15 de julho, a Ministra Nilcéia Freire, da Secretaria das Políticas para as 
Mulheres, passa a coordenar pessoalmente as discussões e apressar a aprovação do documento tal 
como está redigido, pedindo aos delegados presentes que permaneçam sentados se não têm 
objeções e, aos que têm objeções, que as enviem por escrito à secretaria da Conferência sob a forma 
de reservas, para serem posteriormente publicadas. O documento, cujo verdadeiro alcance não é 
adequadamente compreendido pela maioria das delegações latino americanas, é aprovado, no dia 
16 de julho, através de uma aclamação por meio de palmas, sugerida no próprio momento pela 
Ministra Nilcéia Freire, sem que o documento tenha sido lido nem votado. 
2010 - O governo Lula prorroga o contrato do grupo de estudos para estabelecer o modo pelo qual 
poderá ser legalizado o aborto no Brasil. A prorrogação do contrato é assinada em 29 de setembro, 
mas somente é publicada no Diário Oficial na segunda feira, dia 4 de outubro de 2010, um dia após 
a votação do primeiro turno das eleições presidenciais. O governo petista imaginava que, neste dia, 
a candidata Dilma Rousseff já estaria eleita. 
2010 - No dia 16 de outubro, em meio ao segundo turno, a candidata Dilma Rousseff assina uma 
carta compromisso na qual declara à nação brasileira ser vítima de uma campanha de calúnias e 
que ela, assim como o presidente Lula, são contra a legalização do aborto. A candidata Dilma diz 
nesta carta: “Sou pessoalmente contra o aborto e defendo a manutenção da legislação 
atual sobre o assunto. Eleita presidente da República, não tomarei a iniciativa de 
propor alterações de pontos que tratem da legislação do aborto e de outros temas 
concernentes à família e à livre expressão de qualquer religião no país. Com estes 
esclarecimentos, espero contar com você para deter a sórdida campanha de 
calúnias contra mim orquestrada”. 2010 - O coordenador do Grupo de Estudos para legalizar o aborto no Brasil, o médico Thomaz 
Gollop, em entrevista ao Estado de São Paulo, lamenta a carta de Dilma e o rumo da discussão 
sobre o tema no segundo turno das eleições. O projeto trata, segundo extrato do diário oficial, de 
estudo para “despenalizar” o aborto, mas, segundo o Dr. Gollop, a ideia é ir mais longe e não 
fazer mais do aborto um crime. “O objetivo maior no futuro é descriminalizar o aborto, 
mas agora fica difícil avançar”, afirma Gollop. O Grupo de Estudos sobre o Aborto é 
composto dos principais ativistas e representantes das ONGs que promovem o aborto no Brasil, 
entre os quais Dr. Adson França, do Ministério da Saúde, Angela Freitas, do Instituto Patrícia 
Galvão, Beatriz Galli, do Ipas, Carmem Campos, da THEMIS, Cristião Rosas, da FEBRASGO, Dulce 
Xavier, das Católicas pelo Direito de Decidir, Jefferson Drezett, diretor em São Paulo do principal 
serviço de abortos em casos de estupro do Brasil, José Henrique Torres, da Associação Juízes para 
a Democracia, Leila Adesse, do Ipas, Silvia Pimentel, professora da PUC de São Paulo e membro do 
CLADEM, do CEDAW e da ONU, e o próprio Thomaz Gollop, coordenador do grupo. 
2010 - O governo Dilma renova o contrato, no dia 23 de dezembro, do Grupo de Estudos do Aborto, 
sob o nome de Termo de Cooperação número 217/2010. Segundo o Diário Oficial, o contrato 
estará em vigor desde 22 de dezembro de 2010 até 17 de dezembro de 2011. 
2011 - O deputado Roberto Britto, do Partido Progressista (PP) da Bahia, apresenta à Câmara o PL 
1618/2011, que estabelece a criação de código de acesso telefônico que, por meio de psicólogos 
qualificados a serem indicados pelo Sistema Único de Saúde, prestarão ao público informações e 
orientação “com foco no tema do aborto”.
2011 – No dia 22 de dezembro o governo Dilma prorroga o contrato do Grupo de Estudos sobre o 
Aborto no Brasil, rubricado no Diário Oficial como 1º Termo Aditivo ao Termo de 
Cooperação número 217/2010, passando a vigorar até 15 de janeiro de 2012. 
2012 - No dia 27 de dezembro o governo Dilma prorroga, por uma segunda vez, o contrato do 
Grupo de Estudos sobre o Aborto no Brasil. Publicado no Diário Oficial em 9 de janeiro de 2012, o 
contrato vigorará até 30 de agosto de 2012, tendo sido rubricado no Diário Oficial como 2º Termo 
Aditivo ao Termo de Cooperação número 217/2010. 
2012 - No dia 6 de junho, a Folha de São Paulo, em reportagem de capa, afirma que, segundo o 
secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Helvécio Magalhães, “o Sistema de Saúde 
Brasileiro passará a acolher as mulheres que desejam fazer aborto e orientá-las 
sobre como usar corretamente os métodos existentes para abortar. Centros de 
aconselhamento indicarão quais são, em cada caso, os métodos abortivos mais 
seguros do que outros”. A Ministra Eleonora Menicucci, da Secretaria de Políticas para as 
Mulheres, declara também à Folha que “somente é crime praticar o próprio aborto, mas 
que o governo entende que não é crime orientar uma mulher sobre como praticar o 
aborto”. 
2012 - No dia 7 de junho o jornal O Estado de São Paulo noticiou que o “Ministério irá reunirse para preparar uma cartilha para orientar as mulheres que desejam abortar”. A 
cartilha será distribuída em todo o Brasil e deverá ficar pronta até o fim do mês de junho. “A 
intenção é fecharmos o material de orientação em, no máximo, um mês”, afirma ao 
Estado o coordenador do Grupo de Estudos sobre o Aborto, Dr. Thomaz Gollop. 
2012 - No dia 9 de junho, o Correio Braziliense noticia que, ao longo do mês de junho, uma 
comissão de trabalho se reunirá com os técnicos do Ministério da Saúde para formular uma Norma 
Técnica que servirá de base para um programa de aconselhamento para mulheres com gravidez 
indesejada. “O Ministério”, declara o Correio, “pretende liberar para o público a venda de remédios abortivos, hoje de uso reservado à rede hospitalar. Desta maneira, os 
médicos poderão orientar as mulheres sobre como praticar o aborto seguro e os 
medicamentos necessários estarão amplamente disponíveis para o público em 
todas as farmácias”. 
2012 - No final do ano o Ministério da Saúde manda imprimir uma cartilha contendo instruções 
para o uso de medicamentos abortivos cuja comercialização é proibida no Brasil. A cartilha 
manifestamente não se dirige ao povo, mas a um público especializado de médicos e operadores da 
saúde, com instruções técnicas para a realização do “aborto legal”. Entretanto, somente a 1ª 
edição teve uma tiragem de 268.108 exemplares, sendo que há no Brasil apenas 23.000 médicos 
atuando na área da saúde da mulher. A publicação ultrapassa, portanto, em mais de dez vezes, o 
número de profissionais aos quais teoricamente se destinaria. 
2013 - No dia 20 de fevereiro o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reúne-se com o presidente 
da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves, pedindo ao parlamentar que, em homenagem ao 
Dia Internacional da Mulher, seja votado, em regime de urgência, no plenário da Câmara, um 
Projeto de Lei que tramita na Casa, desde 1991, com o nome de PL 60/1999. O projeto, 
eufemisticamente apresentado como tratando sobre o atendimento à mulher vítima de violência, 
será editado no dia 5 de março, antes da votação no Plenário, para conformar-se aos títulos das 
normas técnicas sobre o aborto legal (“Norma Técnica sobre o Tratamento dos Agravos 
da Violência Sexual contra a Mulher”). O artigo primeiro do projeto passa a ser redigido 
declarando que os hospitais devem oferecer às vítimas de violência sexual o “atendimento 
integral dos agravos decorrentes de violência sexual”. Além do próprio título da norma 
técnica, a expressão “integral”, que não existia no projeto original, foi também acrescentada no 
dia 5 de março, para conformar-se aos conceitos apresentados no interior das normas, que definem 
que “o atendimento ‘integral’ às vítimas de violência sexual inclui o direito ao 
aborto”.
Em um só dia, o pedido de urgência é aprovado e o projeto é emendado, apresentado, relatado, 
votado e aprovado por unanimidade no plenário da Câmara. Nos três meses seguintes, já sob o 
nome de PLC 3/2013, é novamente relatado e aprovado por unanimidade em duas comissões do 
Senado e, finalmente, no dia 4 de julho, relatado e aprovado, também por unanimidade, no 
plenário do Senado. Durante todo o processo, apesar da maioria dos parlamentares serem 
contrários ao aborto, não é apresentada uma única objeção. A iniciativa de praticamente todas as 
etapas da tramitação é dos parlamentares do Partido dos Trabalhadores. O projeto é sancionado 
integralmente pela presidente Dilma Rousseff no dia 1 de agosto de 2013, recebendo o nome de Lei 
12.845 de 2013. 
A lei não menciona a palavra aborto. Parece, em vez disso, tratar apenas do atendimento médico às 
vítimas de violência sexual. Trata-se, porém, de uma lei Cavalo de Tróia. Tal como na Grécia, é 
apresentada como uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher, mas traz em si tudo o que é 
necessário para implantar o aborto, praticamente legalizado, na rede do SUS. Na linguagem técnica 
já consagrada pelas normas publicadas pelo Ministério da Saúde, se a gravidez é decorrência de 
violência, o conceito de atendimento integral à vítima inclui o direito ao aborto. Nos termos da 
nova lei, a violência passa a ser definida como qualquer relação sexual não consentida. Nestes 
casos, segundo a normatização já em vigor do Ministério da Saúde, a quem caberá regulamentar a 
nova lei, o aborto deverá ser oferecido à mulher através do uso de medicamentos. Desde 1998 e, 
mais ainda, desde 2004, as normas prevêem que não haja necessidade da apresentação das provas 
da violência para pedir o aborto. Mas, com a nova lei, o conceito de violência passa a ser entendido 
de modo tão amplo que já não haveria mais sentido em apresentá-las, mesmo que estas fossem 
exigidas.


http://www.votopelavida.com/cavalodetroia.pdf 

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