Foto Complexo hidrelétrico do
Tapajós-Lideranças do povo Munduruku iniciaram na manhã de quarta-feira, 15 de
junho, a sinalização dos limites da Terra Indígena Sawré Muybu, localizada em
Itaituba, no Pará. Ao longo das próximas duas semanas, eles irão percorrer a
área para instalar cerca de 50 placas, semelhantes às usadas pelo governo
brasileiro na identificação de terras indígenas, nos limites de seu território,
que teve os estudos de identificação reconhecidos pela Funai em publicação do
Diário Oficial no dia 19 de abril deste ano.
Povo Munduruku reivindica direitos
A sinalização conta com o apoio de ativistas
do Greenpeace e é a primeira de uma série de atividades que irão contribuir com
a luta histórica dos Munduruku pela defesa de seu território e a proteção do
rio Tapajós. O objetivo é chamar a atenção da opinião pública para as violações
e impactos inerentes ao processo de construção de grandes hidrelétricas na
Amazônia. “Essa é uma luta importante não só para o nosso povo, mas para todas
as pessoas do mundo. A construção de hidrelétricas no rio Tapajós pode destruir
nosso modo de vida e a Amazônia”, diz o Cacique Juarez Saw Munduruku.
UM RIO EM PERIGO: O Tapajós é alvo de planos
para construir pelo menos cinco grandes hidrelétricas no seu curso e no de seu
principal afluente, o rio Jamanxim. Entre as usinas planejadas está a de São
Luiz do Tapajós, cujo reservatório terá 729 km². Se construído, ele deverá
inundar perto de 400 km² de floresta, incluindo parte da Terra Indígena Sawré
Muybu. A obra poderá induzir o desmatamento indireto de mais 2.200 km² de
floresta em áreas protegidas da região.
A barragem interrompe o ciclo natural das
águas do rio, que funciona como o pulsar de um coração e é vital para a fauna e
a flora local. A interrupção do fluxo de sedimentos causada pela barragem piora
a qualidade da água, provoca a mortandade de peixes e reduz a fertilidade da
floresta aluvial (vegetação que fica às margens do rio), impactando
significativamente o equilíbrio da vida na região e promovendo a extinção de
espécies raras e outras ainda sequer identificadas pela comunidade científica.
“Além de garantir a manutenção do modo de
vida do povo Munduruku, a demarcação de Sawré Muybu garante a conservação de
178 mil hectares de floresta amazônica que hoje estão ameaçados pelos planos de
construção da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós”, argumenta Danicley de
Aguiar, ativista do Greenpeace na Campanha da Amazônia.
SUSPENSÃO DO LICENCIAMENTO: Após mais de dois
anos parado, recentemente a Funai deu continuidade ao processo de demarcação da
terra indígena Sawré Muybu, publicando o Relatório Circunstanciado de
Identificação e Delimitação da área, que reconhece o território como de uso
tradicional Munduruku. Foi uma importante conquista na luta desse povo pelo seu
direito de existir conforme seus costumes e tradições, bem como uma importante
batalha vencida na luta contra a construção de hidrelétricas no Tapajós, dado
que a Constituição do Brasil não permite o alagamento de terras indígenas e a
remoção de suas populações. Após a publicação do relatório, o Ibama suspendeu o
processo de licenciamento da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, já que esta
prevê o alagamento de parte do território da Terra Indígena Sawré Muybu e exige
a remoção de quatro aldeias. “Vale lembrar que São Luiz do Tapajós é a maior
das hidrelétricas previstas, mas não é a única. Ao todo, há planos para se
construir pelo menos 43 hidrelétricas na bacia do rio Tapajós e muitas outras
na Amazônia”, alerta Danicley.
RESPONSABILIDADE CORPORATIVA: Além de
sensibilizar a opinião pública e pressionar o governo a desistir dos planos de
barrar os grandes rios da Amazônia, o Greenpeace também está questionando as
empresas interessadas sobre os riscos de reputação envolvidos nesses projetos.
Empresas como a alemã Siemens, que detêm a tecnologia para a construção de
hidrelétricas, devem se comprometer publicamente a não se envolver no projeto
do Tapajós. “Em vez de contribuir com a destruição da Amazônia, tanto a Siemens
como as outras empresas interessadas na hidrelétrica de São Luiz do Tapajós
deveriam ajudar o Brasil a desenvolver um futuro com energia limpa de verdade,
como a solar e a eólica, que já são uma realidade para suprir as necessidades
de abastecimento de energia do país”, afirma Danicley.
Nenhum comentário:
Postar um comentário