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segunda-feira, 3 de novembro de 2014

JATENE CHAMA DE IRRESPONSÁVEIS POLÍTICOS QUE QUEREM DIVIDIR O PARÁ


Governador Simão Jatene
EM ENTREVISTA AO JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO, SIMÃO JATENE CRITICA SEPARATISTAS
 
Governador Simão Jatene

Reeleito com votação apertada, Simão Jatene (PSDB), vai se tornar o político que mais tempo passou à frente do governo do Pará: 12 anos.

Jatene, que foi um dos fundadores do PSDB, derrotou Helder Barbalho (PMDB), filho do senador Jader Barbalho (PMDB-PA), após uma campanha repleta de ataques, cujo resultado ecoou o plebiscito que vetou a ideia da divisão do território em três Estados, em 2011.
“Quando vimos o mapa de votação [do primeiro turno], com vitória deles nos territórios que buscaram a divisão, não teve jeito, tivemos que tomar algumas decisões, denunciar a safadeza disso. Eles queriam um novo plebiscito, mas só com as pessoas de lá. É uma maluquice”, disse o governador, em entrevista à Folha na segunda (27).
O tucano garantiu sua terceira vitória para governador ao conquistar a maioria dos eleitores de Belém e região metropolitana, compensando o triunfo de Helder nas cidades que formariam os territórios (em especial Santarém e Marabá) –o vice do peemedebista ainda defende a separação do Estado.
E criticou o governo federal, acusando-o de “saquear” a Amazônia com grandes obras. “Esse olhar para a Amazônia, um almoxarifado que tu saqueias e fica por isso mesmo, está cada vez mais insustentável. E isso era o compromisso da Marina [Silva] e, de certa forma, do Aécio [Neves]“, disse Jatene, citando os dois presidenciáveis de quem recebeu apoio.
No meio da entrevista, recebeu telefonema de Marina, parabenizando-o pela votação, e cobrando novamente os compromissos pela preservação da Amazônia. “Desde o tempo da borracha é nítida a contribuição do Pará ao governo brasileiro. Mas lamentavelmente o Pará não tem tido o reconhecimento do governo federal.”
Abaixo, os principais temas da entrevista, em Belém.

GRANDE OBRAS DA AMAZÔNIA
“A decisão de implantar um grande projeto passa longe daqui. É a coisa do interesse nacional. Impor o interesse nacional sobre os interesses sub-regionais não pode ser na base do ‘metrópole e colônia’. Se você implantar um grande projeto destes, numa economia consolidada, como São Paulo e Minas Gerais, tem um efeito que desbalanceia o território. Mas aqui, não, aqui vira de cabo a rabo, vira de ponta-cabeça.
Veja o linhão [de transmissão] de Tucuruí. As pessoas ouvem o linhão fazer ‘zzzz’, passando na cabeça delas, mas não têm energia em casa. Esse olhar para a Amazônia, um almoxarifado que tu saqueias e fica por isso mesmo, está cada vez mais insustentável. E isso era o compromisso da Marina e, de certa forma, do Aécio.
Pegue o exemplo da hidrelétrica. Você faz um projeto de engenharia, e este projeto não tem qualquer preocupação ambiental ou social, vamos ser francos. A saída mágica é a condicionante, como se isso fosse resolver todas as mazelas que a história não conseguiu resolver.”

ESTADO DIVIDIDO/SEPARATISMO
“O plebiscito de 2011 foi uma das experiências mais sérias e traumáticas que o Estado já teve. Há muitos pedidos de divisão de Estados pelo país, mas nos fizeram de cobaia. A campanha do “sim”, com o Duda Mendonça, começou a ganhar corpo, e começaram a produzir peças violentas, grosseiras. Quando percebi isso, pensei: ‘não tenho saída, tenho que puxar essa coisa [a campanha do 'não'] para mim’. É melhor do que deixar que as populações entrem em conflito.
Nesta eleição, na última semana antes do primeiro turno, eles [Helder] partiram para uma campanha desgraçada, revivendo o plebiscito. Isso mexeu com o sentimento que estava adormecido. Eles terminaram o primeiro turno com 50 mil votos na frente. Quando vimos o mapa de votação, com vitória deles nos territórios que buscaram a divisão, não teve jeito, tivemos que tomar algumas decisões, denunciar a safadeza disso. Eles queriam um novo plebiscito, mas só com as pessoas de lá. É uma maluquice.
Não dá para meia dúzia de irresponsáveis, de lideranças sub-regionais, fazer um estrago deste tamanho. Nós estreitamos [a votação] nas duas regiões, diminuímos a diferença, e abrimos [margem] na região metropolitana e na região nordeste.”

DOMÍNIO TUCANO NO PARÁ
“Não [é uma oligarquia], pelo seguinte. A diferença é que não tenho nenhum parente metido na política, zero. Nem prefeito do interior, nada. O [ex-governador tucano Almir] Gabriel, mesma coisa. Não criamos nenhum aparato institucional, império da comunicação. Tenho uma total discordância de se ter veículo de comunicação de grupo ou partido político como proprietário. Isso fragiliza muito a questão da democracia, das disputas. Não é isso.”

AÉCIO NEVES
“Ele é um vitorioso, o país todo reconhece isso. Tenho a maturidade para compreender que esses votos não se cristalizam na pessoa, a pessoa é que cristaliza ideias e causas. Agora é unificar de fato cada vez mais o Brasil no sentido de construir bases para um passo mais largo.”

DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA
“Houve um repiquete [nos últimos 12 meses], mas caímos muito nos últimos anos. A própria Marina disse que ajudamos muito na questão do desmatamento. Quando a ministra [do Meio Ambiente, Izabella Teixeira] resolveu achar que ia dar um pito na questão da retomada do desmatamento, eu disse: ‘Menos. Isso está acontecendo em unidades de conservação federal e projeto de assentamentos. Não transfira a responsabilidade para esconder fragilidade.’ Criamos unidades de conservação, e temos que induzir a sociedade local, nos municípios, para ela perceber que isso é mau.”

LEI KANDIR (PREVÊ A ISENÇÃO DE ICMS NAS EXPORTAÇÕES)
“No ano passado, exportamos R$ 40 bilhões. Se eu tivesse uma alíquota de 7% sobre isso, eu teria R$ 2,8 bilhões. Para efeito de comparação, nos quatro anos de governo, vamos investir R$ 4,5 bilhões. Temos que resolver isso internamente, ninguém é louco de onerar exportação em um mundo globalizado. Propus uma saída ao [Antônio] Palocci lá atrás, quando ele era ministro [da Fazenda], com a criação de um fundo. Ele adorou, disse que o plano era genial. E ficou nisso. Na atual gestão, não tive chance de conversar sobre isso.”

DERROTA DOS BARBALHO
“É muito cedo para uma avaliação mais depurada, mas tem um significado importante para o Pará e para o país. A sociedade brasileira, particularmente a paraense, rejeita a ideia do vale-tudo na política. Eles têm uma história de intimidar, de truculência. Os eleitores fizeram uma avaliação de valores mesmo.
A velha tática de ficar massificando a mentira na expectativa de que ela vire verdade, cada vez mais, em uma sociedade. Essa coisa da esperteza não tem mais o condão de garantir o voto. Ninguém é dono do voto. Vamos ser francos, isso na campanha foi usado na campanha, mesmo. Isso mexeu com os brios, a classe média vendo, gente que nunca vi balançando uma bandeira na rua. Essa coisa da defesa. A ideia de não querer um passado que nos envergonhou”.

Por: Lucas Reis
Fonte: Folha de São Paulo

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