Delegados da PF na inauguração de posto de
fiscalização na fronteira, em 2009.
Cinco agentes da Polícia Federal e um
servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai) já estão na aldeia Apiwtxa, no
município de Marechal Thaumaturgo (AC), por causa de quatro líderes indígenas
da Comunidade Nativa Alto Tamaya–Saweto, no Peru, que foram assassinados a
balas na semana passada, em território peruano, quando se deslocavam com
destino para participar de uma reunião contra a exploração ilegal de madeira na
região.
A equipe, que não tem data para retorno, vai
investigar e prestar segurança na região de fronteira, pois as lideranças
indígenas assassinadas tem forte ligação de parentesco com as lideranças da
aldeia brasileira. Do outro lado da fronteira, autoridades peruanas também
iniciaram as investigações sobre os assassinatos.
A região de fronteira localizada em Marechal
Thaumaturgo sempre foi considerada bastante instável, principalmente pela ação
de madeireiros e por ser famosa como rota dos narcotraficantes. A situação
acarreta preocupação constante para os povos indígenas locais e um esforço
contínuo para as instituições.
- O objetivo é garantir a segurança dos
ashaninka e tranquiliza-los para que possam passar mais informações enquanto
são realizadas as investigações – explicou uma fonte ao Blog da Amazônia.
Procurado pela reportagem, o coordenador em
exercício da Funai em Cruzeiro do Sul, Jairo Lima, informou que todas as
diligências estão sendo realizadas no intuito de garantir a presença
institucional.
Em 2009, agentes da Polícia Federal passaram
a operar num posto de Controle de Fronteira (Confron) em Marechal Thaumaturgo,
região que tem sido palco de vários conflitos em decorrência da presença de
narcotraficantes e madeireiros peruanos. O posto inaugruado pelo então
diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, e pelo então
superintendente da PF no Acre, Luiz Cravo Dórea, foi fechado recentemente.
O Confron operava na confluência dos rios
Juruá e Amônea e foi construído com mogno apreendido e doado pelo Ibama. Além
de ser uma das principais rotas do narcotráfico, a região abriga a maior
reserva natural de mogno do planeta.
O mogno, também conhecido como aguano, caoba
e mahogany, é uma das madeiras mais cobiçadas no comércio internacional. O Brasil,
especialmente o Acre, perde milhões de dólares com o contrabando de mogno na
região.
Madeireiros peruanos costumam invadir o
território brasileiro para explorar o mogno e exportá-lo para países europeus
como se fosse oriundo de áreas de manejo florestal no país vizinho.
Os indígenas peruanos Edwin Chota Valera,
Jorge Ríos Pérez, Leoncio Quinticima Melendez e Francisco Pinedo participariam
de uma reunião na aldeia Apiwtxa sobre estratégias de continuidade de ações de
vigilância e fiscalização da fronteira, para impedir a ação de narcotraficantes
e de madeireiras, que há muitos anos exploram ilegalmente a região.
Edwin Chota Valera, de 53 anos, era a
principal liderança dos ashaninka no lado peruano da fronteira. Denunciava há
anos a situação de vulnerabilidade a que estava exposta a etnia em decorrência
da falta de apoio do governo peruano contra as ofensivas de madeireiros
armados.
Os indígenas foram emboscados na Comunidade
Nativa Alto Tamaya–Saweto, no departamento Ucayali, cuja capital é Pucalpa, a
230 quilômetros de Cruzeiro do Sul, a segunda maior cidade do Acre. Os
ashaninka foram amarrados e baleados na frente de seus parentes, nas cabeceiras
do rio Tamaya, no distrito de Masisea.
Repúdio A organização peruana Federação
Nativa do Rio Madre de Dios e Afluentes (Fenamad) divulgou nota em que repudia
os assassinatos dos líderes indígenas e critica a atitude indiferente das
autoridades de Ucayali, que nunca responderam às reiteradas denúncias
realizadas por Edwin Chota contra os saqueadores dos recursos naturais dentro
de seu território ancestral.
De acordo com a Fenamad, os madeireiros
seguiram atuando impunemente até assassinar o líder indígena. A organização
denuncia o permanente abandono em que se encontram os povos indígenas por parte
do Estado peruano, que sofrem violação sistemática de seus direitos, como a
superposição de seus territórios ancestrais e saqueamento indiscriminado de
seus recursos naturais, muitas vezes com o aval de autoridades corruptas.
A Fenamad exige da Policía Nacional a
imediata captura dos assassinos e que as autoridades judiciárias lhes aplique
todo o peso da la lei. A entidade pede ainda que o Estado peruano atenda e
proteja de maneira efectiva e real os direitos dos povos indígenas.
Por: Altino Machado
Fonte: Terra Magazine/ Blog da Amazônia
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