Conhecida pela biodiversidade e inúmeras
fontes de água, o mundo todo olha para a Amazônia como um oásis em meio a tanto
concreto e asfalto do mundo moderno. Entretanto, o uso desenfreado de recursos
naturais tem causado mudanças climáticas alarmantes. Modelos científicos
preveem um aumento de 4°C na região e, se nada for feito, a Amazônia de 2080
terá um futuro catástrofico.
Quatro graus célsius podem parecer pouco, mas
essa temperatura é o começo de uma série de reações globais preocupantes. De
1880 a 1980, o planeta teve um aumento da temperatura média de 0,75ºC. Esse
aumento foi o suficiente para que muitas das catástrofes climáticas se
tornassem mais intensas. O relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC) aponta um cenário de secas e cheias mais potentes e
frequentes para a Amazônia.
A história das mudanças climáticas
O cientista britânico John Tyndall descobriu
em 1859 que alguns gases absorvem pouco calor em forma de raios solares e
outros bem mais. Nos seus experimentos, ele percebeu que os gases que mais
acumulavam calor eram metano (CH4), dióxido de carbono (CO2), e vapor de água.
De acordo com ele, graças ao vapor da água na atmosfera o planeta conseguia
manter sua temperatura.
Graças a essa descoberta, muito tempo depois
foi possível descobrir as causas do aumento da temperatura no planeta. O feito
aconteceu em 23 de junho de 1988, durante uma comissão organizada pelo senado
dos Estados Unidos, que convocou vários cientistas para tentar explicar uma
onda de calor que assolava o país na época.
James Hansen, climatólogo-chefe da Nasa, na
época, explicou que os gases produzidos pela combustão de carvão, gás e
petróleo [desde as épocas pré-industriais da humanidade] têm criado uma
barreira para os raios de Sol refletidos pelo planeta terra. Dessa maneira, o
calor que deveria voltar para o espaço é retido na nossa atmosfera, aumentando
a temperatura do planeta.
Outros cientistas já tinham se preocupado com
esse aumento da temperatura e os gases do efeito estufa, mas Hansen foi o
primeiro a demonstrar com clareza o processo do fenômeno físico chamado “efeito
estufa”.
Em novembro de 1988, logo após a apresentação
do relatório de James Hansen no Congresso Americano, a Organização das Nações
Unidas apoiou a criação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas. O
IPCC tem como objetivo “analisar e avaliar a informação científica, técnica e
socioeconômica mais recentes produzidas no mundo para a compreensão das
alterações climáticas”.
Milhares de cientistas do mundo trabalham
voluntariamente no IPCC para oferecer e apresentar dados relevantes que podem
ser utilizados para a tomada de decisões governamentais e privadas em questões
climáticas.
Três possíveis futuros da humanidade
De acordo com o o IPCC existem três grandes
possíveis cenários para o futuro do Mundo. O primeiro deles é um cenário de
crescimento econômico e populacional. O consumo e o crescimento populacional
vão fazer com que cada vez mais gases do efeito estufa sejam jogados na
atmosfera.
O segundo cenário é mais otimista. Com
desenvolvimento econômico mais rápido, o crescimento populacionalse torna igual
em todo o mundo, até que a população global alcance um pico no meio do século e
depois declina. Melhorias tecnológicas ocorrem para todas as fontes energéticas.
Esse é o caminho entre economia e meio ambiente.
O melhor cenário é o terceiro onde o
crescimento econômico e populacional diminui para o cumprimento de metas
ambientais. Junto a isso, tecnologias energéticas mais eficientes fazem o mundo
caminhar para um quadro de maior estabilidade climática.
Imagine agora esses três cenários possíveis
para o mundo e para Amazônia. Em qual deles você iria se basear na hora de
planejar sua vida, seus negócios, seu trabalho? Para o cientista Philip
Fearnside, o meio termo não é a melhor maneira de governos e pessoas planejarem
o futuro.
O Ph.D Philip Fearnside é pesquisador do
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e ganhador do prêmio Nobel
da Paz. Ele trabalhou toda sua vida no estudo da Amazônia e mudanças
climáticas. Para o cientista, é preferível se precaver contra o pior.
“Se alguém que mora em um prédio de
apartamentos perguntasse a um engenheiro se o edifício poderia ruir. Ele
ficaria satisfeito com uma resposta de que é “provável” que o prédio permaneça
em pé? Isso pode significar que há uma chance de 51% de que o edifício se
mantenha em pé e uma chance de 49% de que caia ao chão. Certamente os moradores
não se satisfariam com a segurança de apenas mais de 50%”, disse o pesquisador
Philip Fearnside.
O pior dos cenários
O que aconteceria no pior dos cenários? Bom,
nada muito agradável. A começar pelo aumento da temperatura. De acordo com o
relatório do IPCC dentro do pior cenário, a região amazônica vai ter um aumento
de 4ºC. Pode parecer pouco, mas essa temperatura é o começo de uma série de reações
catastróficas.
As mundanças climáticas aumentam o número de
ocorrência de situações extremas na região. Isso significa cheias e secas mais
intensas. Longos períodos de alta temperatura e poucas chuvas matam árvores de
sede. Enchentes também matam árvores que não são nativas de áreas de várzea e
que são alcançadas pela água.
Outro fator previsto no relatório é o aumento
da mortalidade de plantas e florestas causadas pelo fogo. Com quadros de calor
extremos a suscetibilidade a incêndios na região é maior. O aumento no número
de queimadas, a morte de árvores em períodos de secas mais prolongadas e cheias
mais intensas criam um ciclo de destruição que tem como resultado final: a
diminuição da área de floresta da Amazônia.
As árvores queimadas e em processo de
decomposição produzem dióxido de carbono e metano, os dois principais gases
causadores do efeito estufa. Isso cria um processo cíclico onde mais calor
produz mais gases do efeito estufa, que gera mais calor no planeta.
Savanização da Amazônia
Em 2007, projeções do Centro Hadley, um
instituto britânico de pesquisa do clima, apontou para um processo extremo de
savanização da Amazônia. De acordo com a projeção na época haveria na região um
clima mais seco e quente, típico do período em que ocorre o El Niño. Um clima
do tipo “El Niño” frequente na região faria com que a floresta amazônica fosse
substituída por uma vegetação do tipo savana até o final do século 21.
Felizmente, a projeção do Centro Hadley foi
reavaliada e os fatores de savanização apontaram um cenário não tão
catastrófico. Mas isso não pode ser motivo de comemoração. De acordo com
Fearnside ainda é bastante preocupante o cenário de extremos pelo qual a
floresta ainda vai passar. “Esses momentos de muita chuva e muita seca que os
centros ainda projetam é que podem realmente prejudicar a floresta”.
Os peixes
O aumento da temperatura também pode ser
sentida pelos animais. A pesquisa “Crescimento do tambaqui em cenários de
mudanças climáticas” é um projeto do Centro de Estudos de Adaptações da Biota
Aquática da Amazônia (Adapta) que coloca os peixes numa situação aproximada ao
cenário proposto pela IPCC.
Os peixes foram colocados em um ambiente com
temperatura mais elevada e concentrações maiores de dióxido de carbono. Para se
adaptar a esse clima, os tambaquis ficaram menores, afetando diretamente o
hormônio do crescimento da espécie. Peixes menores poderiam afetar
negativamente as populações ribeirinhas, que tem esses peixes como base da
alimentação.
O que é possível fazer
As pesquisas científicas projetam para o
planeta esses três possíveis futuros. O aquecimento global é sobre o ser humano
e a própria sobrevivência. Philip Fearnside afirma que o Brasil tem feito
acordos de diminuição do desmatamento ilegal, e isso é ótimo. Mas os
desmatamentos legais também são parte do problemas, quer queira ou não. Para
ele, o ideal é que o desenvolvimento venha junto com práticas ambientais. “O
pior dos cenários precisa ser levado em conta por causa do fator de risco, mas
isso significa que não possa ser mudado.”
O ser humano chegou aonde está devido ao
consumo e combustão em excesso de fontes de carbono como carvão, petróleo,
árvores e gás. Basta que pessoas e governos de todo o mundo tomem ações, sejam
elas individuais ou não, para que esse pior cenário não aconteça. Mas no final,
a pergunta que fica é: a Amazônia terá um futuro?
Por: Isaac Guerreiro
Fonte: Portal Amazônia
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