A MELHOR INFORMAÇÃO

terça-feira, 2 de setembro de 2014

FICHAS SUJAS EM CAMPANHA


A Lei da Ficha Limpa, ao que parece, ainda não foi admitida por muitos personagens da política brasileira como um instrumento de assepsia.


Quando mais de 1,3 milhão de pessoas assinaram o projeto de iniciativa popular para que o Congresso Nacional aprovasse uma lei inibindo a participação da candidatos corruptos em pleitos eleitorais, o distinto público imaginou que não seria votado nunca. Pois todo mundo se enganou.

O Congresso dobrou-se à vontade popular. Vergou-se a imposições éticas cobradas pela sociedade. Cedeu diante das pressões legítimas para que a legislação brasileira deixasse de premiar autores de improbidades com novos cargos eletivos.

A tramitação da Lei da Ficha Limpa foi acompanhada pelo país inteiro, tanto no Poder Legislativo como posteriormente, quando foi debatida a sua constitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF). Mesmo assim, homens públicos que já foram atingidos pela Ficha Limpa ainda não caíram, como se diz, “na real”. Vivem, imagina-se, no mundo de suas perdidas ilusões. E muitos continuam tranquilamente fazendo campanha, mesmo depois de decisões colegiadas terem indeferido suas candidaturas. O candidato ao governo do Distrito Federal José Roberto Arruda (PR) é um deles.

Aspirante a Excelência, ele foi condenado por improbidade administrativa por envolvimento no mensalão do DEM e já sofreu duas derrotas judiciais - uma no Tribunal Regional Eleitoral, outra no Tribunal Superior Eleitoral. Enquanto aguarda uma definição do STF, ele mantém a campanha normalmente, realizando comícios, fazendo encontros com militantes e com associações comerciais, abrançando criancinhas e se dizendo, obviamente, inocente das acusações que lhe são imputadas. Em evento realizado um dia após o revés na Justiça Eleitoral, Arruda se disse vítima de um golpe e chegou a afirmar que “as chibatadas doem”, mas que continua “na luta”.

Pode isso? Podem as aparições públicas com motivação eleitoral? Não pode. O Ministério Público Eleitoral já pediu à Justiça Eleitoral que proíba todos os atos de campanha comandados pelo candidato. Em petição, o procurador-geral Eleitoral, Rodrigo Janot, afirmou que “a realização de campanha só é permitida àquelas que possuem registro de candidatura”. “Os candidatos que tiverem os registros indeferidos ou cancelados em virtude de uma causa de inelegibilidade não poderão realizar campanha eleitoral”, prosseguiu o chefe do Ministério Público, que pediu ainda o imediato cancelamento do registro de candidatura do candidato pelo PR.

Janot considerada que a continuidade da campanha de Arruda pode resultar na substituição do candidato às vésperas das eleições, o que prejudica “o direito dos eleitores de conhecer aqueles que estão confiando seus votos”, além de trazer “enormes prejuízos à segurança jurídica e à tranquilidade que devem conduzir as eleições”.

“É que o candidato não concorre, nesse caso, por sua conta e risco, mas à conta e risco do direito dos eleitores em vivenciarem um processo eleitoral transparente e baseado na segurança jurídica, o que é inadmissível”, disse o procurador.

Ressalta ainda que os embargos de declaração apresentados ao TSE não possibilitam a reanálise do caso, o que torna “indiscutível” a decisão da corte, e que o recurso impetrado no Supremo Tribunal Federal “está desassociado da jurisdição eleitoral”, o que permitirá que o TSE já solicitasse providências em relação à candidatura de Arruda.

A manifestação da Procuradoria Geral Eleitoral é didática. Indica de forma clara que as leis existem para ser cumpridas. Quando não o são, seus destinatários, ou seja, aqueles que devem sofrer sanções por não adequarem suas condutas às regras prescritas, iludem-se de que poderão continuar impunes, como sempre estiveram.

O Liberal Digital!

Nenhum comentário:

Postar um comentário