O custo da democracia brasileira
Matéria do “Estado de S. Paulo” reporta que o custo
total previsto pelos candidatos à presidência da República em 2014 é 382% maior
do que o referente em 1994, primeira eleição na qual pessoas jurídicas tiveram
permissão legal para financiar campanhas, ou seja, quando foi permitido a
compra da democracia pelo empresariado nacional.
Na eleição de 1989, quando as pessoas jurídicas
eram proibidas de doar, os 22 candidatos registraram limites de R$ 74 milhões
(valores de hoje). O valor do limite estipulado pelos 11 candidatos em 2014 (R$
916 milhões) é 1.138% maior.
> Democracia no leilão
Apenas o leilão da democracia explica o aumento. Em
1989 o Brasil tinha 70 milhões de eleitores e hoje tem 142 milhões. Como o
valor de 1989 está atualizado e o eleitorado dobrou, lógico seria que o custeio
dobrasse e o limite fosse em torno de R$ 140 milhões, e não os R$ 916 milhões
previstos hoje.
Ilustra o “Estadão”, valendo-se do livro
“Democracia, Partidos e Eleições: os custos do sistema partidário no Brasil”,
do cientista político Mauro Campos, que “a relação gasto/voto criou um
círculo vicioso que leva ao aumento exponencial do custo das eleições no
Brasil. Os candidatos aprenderam que quanto mais gastam mais chances têm de
ganhar. A lógica é: se meu oponente vai fazer, faço mais do que ele.”
A lavra é correta. Os candidatos são pressionados a
sempre gastar mais que o concorrente, na suposição provável de que “o
eleitor não vota em quem está por baixo, pois não quer perder o voto”.
> Sem inteligência emocional
“A substituição dos tradicionais comícios pelos
palanques eletrônicos e a consequente dependência de equipamentos caros e
sofisticados; a prevalência das pesquisas qualitativas sobre a intuição
política; o protagonismo dos marqueteiros; a troca da militância por cabos
eleitorais pagos” também são listados como responsáveis pelo aumento
exponencial do custo das campanhas.
Sugiro que “a prevalência das pesquisas
qualitativas sobre a intuição política e o protagonismo dos marqueteiros”
são responsáveis por 50% dos custos embarcados às campanhas desde 1989.
A dependência da tecnologia furtou o senso prático
e a confiança na intuição, que formam a inteligência emocional. Até para fazer
pronunciamentos é preciso baterias de pesquisas qualitativas “para falar o
que o povo quer ouvir”.
Isso pode ser um dos elementos que distanciam o
representante do representado, pois o eleitor não vota em uma ideia, em uma
pessoa, em um ser emocional, que tem defeitos e qualidades como qualquer um,
mas em um produto artificialmente elaborado.
> Arquétipos
Os candidatos se transformam em um quê de homens
vitruvianos e a construção disso custa muito dinheiro, bem mais do que o
marketing recebe para nos fazer beber Coca-Cola, pois um comercial desta dura
um ano e uma campanha só tem 19 programas em 44 dias de rádio e TV.
Outro dia, ouvi de um interlocutor que entende do
riscado, que a produção de um único programa eleitoral na televisão, custa mais
do que um capítulo inteiro de uma novela da Globo.
> Tenhamos pressa
Castigo essa tecla faz tempo: se quisermos mudar os
políticos temos que mudar a política e se quisermos mudar a política temos que
mudar o sistema eleitoral com uma reforma política que inicie o processo de
purgação da mora que o sistema vigente nos debita.
E quaisquer mudanças só repercutirão na melhora do
nosso extrato político em aproximadamente 50 anos após a ignição delas,
portanto, deveríamos estar com pressa, ou legaremos aos nosso filhos o mesmo do
mesmo.
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