IRREGULARIDADES FORAM CORRIGIDAS EM
2012, AFIRMA SECRETÁRIO ADJUNTO
O Sistema de Comercialização e Transporte de
Produtos Florestais (Sisflora), ferramenta eletrônica disponibilizada via
internet pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) e utilizada por
associações e empresas do setor madeireiro, é alvo de investigação do
Ministério Público Federal (MPF). A fraude é responsável pela derrubada ilegal
de 64 mil hectares de floresta, área que equivale à metade das dimensões da
capital paraense. De acordo com os levantamentos do Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), onze empresas estavam
envolvidas no esquema.
O secretário adjunto de Meio Ambiente do
Estado do Pará (Sema), Hildemberg Cruz, explicou que o governo do Estado já
tomou todas as providências para corrigir as irregularidades apontadas pelo
Ibama em relação ao Sisflora. “Nós fizemos as correções assim que fomos
informados do problema pelo Ministério Público, há quase dois anos”, disse
Hildemberg, ontem, em Brasília. “O período de análise do Ibama foi de outubro
de 2010 a julho de 2011. Ele auditou o Sisflora nesse período e identificou que
essas fraudes vinham ocorrendo. Havia irregularidades aplicadas em alguns
índices dentro do sistema. Em 2012, o Ibama produziu um relatório e o
Ministério Público tomou conhecimento do problema. Nós fomos avisados pelo MP e
retiramos, imediatamente, os índices que estavam alterados dentro do Sisflora”,
explicou Hildemberg. “Nós, como secretaria, temos a gestão do Sisflora. Então,
através de uma solicitação do secretário, nós fizemos as alterações desses
índices no sistema e corrigimos o problema”, justificou.
A denúncia indica que, após a Sema autorizar
a extração da madeira, a quantidade de toras é convertida em créditos, que
equivalem aos subprodutos da matéria-prima. Cada metro cúbico (m³) de tora deve
gerar, obrigatoriamente, 45% de madeira serrada e 55% de resíduos. Entretanto,
a fraude é cometida na hora de contabilizar o subproduto. No final, a soma dos
derivados da madeira é muito maior do que a quantidade inicial de
matéria-prima. Em um dos casos investigados, uma madeireira declarou que o
volume de origem somava 390 m³, sendo que ao final do processo, apareciam 454
m³. Segundo as investigações do Ibama, essa quantidade extra é ilegal, ou seja,
foram extraídas de áreas não autorizadas, como reservas ambientais ou terras
indígenas.
De acordo com a denúncia, nem as empresas que
têm o chamado "selo verde" ficaram livres da fraude. De acordo com o
relatório, instituições certificadas por respeitar as leis ambientais também
receberam madeira de serrarias que alteraram os créditos no Sisflora. O que,
segundo o Ministério Público, pode ter comprometido a cadeia de produção
sustentável. “A cadeia produtiva desse setor está tão contaminada que é difícil
se ter uma segurança satisfatória quanto à legalidade de um determinado
produto”, afirma Bruno Valente, procurador da República. Além do Ibama, o
Greenpeace também investigou as fraudes no Sisflora durante dois anos,
analisando mais de mil autorizações para exploração florestal no Pará e o
caminho dessa madeira até o mercado internacional.
COLABORAÇÃO
Hildemberg Cruz também cobrou colaboração do
governo federal na fiscalização dessas irregularidades e promoção de
estratégias que impeçam novas fraudes. “Nós estamos abertos a esse diálogo com
o governo federal e podemos conversar com os órgãos de controle para encontrar
caminhos mais eficazes. Já estamos, inclusive, assinando um Termo de
Ajustamento de Conduta com o MPF, para fiscalizar melhor essa cadeia de
madeira, o que é um sinal de que estamos dispostos a contar com essa
colaboração vinda de qualquer diretriz que possa colaborar na solução desses
problemas”, concluiu.
A ação está sendo analisada pela Justiça. Em
nota, a empresa responsável pelo sistema Sisflora disse que ele foi feito de
acordo com as necessidades da Sema e que recebe os dados encaminhados pela
Secretaria. A Procuradoria-Geral do Estado do Pará disse que existem duas ações
do Ministério Público contra o Sisflora e que as alterações do sistema não
foram provocadas por má fé dos servidores, mas por falhas no sistema que possibilitaram
a ação dos criminosos.
RAFAEL QUERRER
Da Sucursal
O Liberal Digital!
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