Maior aliado do PT na base governista, o PMDB
chega ao segundo turno do pleito presidencial dividido entre o apoio à
reeleição de Dilma Rousseff e o desejo pela vitória do tucano Aécio Neves.
Embora tenha cinco ministros no governo e
ocupe com seu presidente, Michel Temer, o posto de vice na chapa dilmista, o
partido abriga alas que passaram a defender abertamente a candidatura de Aécio,
sinalizando que o apoiariam no Congresso em caso de vitória.
Em entrevista à BBC Brasil, o primeiro
vice-líder do PMDB na Câmara, o deputado Marcelo Castro (PI), diz que metade da
bancada está com Dilma, e a outra metade, com Aécio.
Peemedebistas dizem que o racha no partido
será um dos primeiros desafios do próximo presidente da República. Segundo
eles, em 2015, o PMDB provavelmente tentará se manter na Presidência da Câmara
e do Senado, o que o tornaria fundamental para a aprovação de projetos de
interesse do governo.
Na próxima legislatura, o partido será dono
da segunda maior bancada da Câmara (66 dos 513 deputados), atrás apenas do PT
(70), e terá o maior número de senadores (18 de 81).
Aliado de todas as horas
Herdeiro do MDB (Movimento Democrático
Brasileiro), criado em 1966 como contraponto à Arena, partido oficial da
ditadura militar, o PMDB permaneceu na oposição até o fim do regime.
Após a redemocratização, porém, a sigla
aliou-se a todos os presidentes eleitos, com a exceção de Fernando Collor de
Mello (1990-1992).
O vice-presidente Michel Temer recentemente
definiu o PMDB como o "partido da governabilidade" e disse que
"não se governa" sem a sigla.
Por causa dessa postura, porém, o PMDB é
frequentemente acusado de praticar uma política "fisiológica",
trocando apoio no Congresso por cargos e vantagens no governo.
Para Daniel Aarão Reis, professor de história
contemporânea na Universidade Federal Fluminense, a crítica é
"superficial".
Ele diz que a "estrutura
gelatinosa" do PMDB se ampara no funcionamento da política brasileira das
últimas décadas, em que os partidos mais progressistas, PT e PSDB, optaram por
se aliar a "forças da direita" em vez de "enfrentar as heranças
da ditadura".
"O PMDB é a expressão mais definida da
indefinição geral que caracteriza o nosso período político, mas não está
sozinho nessa indefinição", ele diz.
Para Aarão Reis, a carreira do ex-presidente
José Sarney, mais ilustre membro do partido, evidencia essas características da
política nacional.
Sarney, hoje com 84 anos, esteve ao lado dos
militares durante a ditadura e, após a queda do regime, passou para o grupo
político que acabaria no comando do país. Após ocupar a Presidência da
República, o maranhense passou oito anos na Presidência do Senado.
Neste ano, porém, ele resolveu não concorrer
à reeleição e anunciou que abandonaria a vida pública.
Acredita-se que ele deva continuar ativo nos
bastidores, mas sua saída dos holofotes tem alimentado em certos grupos do PMDB
pedidos por renovação e pelo fim da aliança com o PT.
Alguns peemedebistas se queixam da influência
exercida na sigla por políticos da "velha guarda", entre os quais o
atual presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e os senadores Jader Barbalho
(PA), Eunício Oliveira (CE) e Romero Jucá (RR).
Um dos mais vocais defensores da mudança, o
deputado Alceu Moreira (PMDB-RS) diz que "estamos vivendo o fim de um
ciclo em que coronéis usavam o partido para tirar vantagens do governo".
O deputado diz que, se Aécio for eleito, o
PMDB não o apoiará "apenas pela ocupação de cargos", mas "para
ser protagonista na aprovação de políticas públicas".
Para ele, Dilma almeja transformar o Brasil
num "país comunista semelhante à Venezuela ou Cuba", enquanto
"Aécio dá a oportunidade de discutir um caminho novo, uma
alternativa".
Se a presidente se reeleger, Moreira diz que
o partido se manterá independente e decidirá sua postura voto a voto. Ainda
assim, ele diz que o PMDB permanecerá unido.
Já para o deputado peemedebista Marcelo
Castro (PI), que apoia a reeleição de Dilma, é possível que o partido perca a
unidade na próxima legislatura e passe a se dividir nas votações, a exemplo do
que já ocorreu no passado.
Grupo de Temer
Num ponto, os peemedebistas parecem
concordar: uma vitória de Aécio enfraqueceria no partido o grupo de Michel
Temer, que sustentou a aliança com o PT, e abriria uma luta pelo comando da
sigla.
O atual líder do partido na Câmara, Eduardo
Cunha (RJ), tem despontado como o principal adversário do grupo de Temer. Ele
declarou em entrevista recente que o atual vice não teria condições de liderar
o partido se Dilma perder.
Cunha saiu-se fortalecido desta eleição: o
PMDB do Rio, sua base política, elegeu oito deputados para a próxima
legislatura. Já o PMDB paulista, berço de Temer, elegeu apenas dois, menos do
que Minas Gerais, com seis, e Santa Catarina e Rio Grande do Sul, com cinco
cada.
Mesmo que haja mudanças no comando da sigla,
o professor Aarão Reis diz que o partido deverá seguir o caminho trilhado por
Sarney.
"Não vejo nessa nova geração que
desponta no PMDB nada de inovador em relação ao que ele representou. São
discípulos muito reverentes ao seu legado."
BBC João Fellet
Da BBC Brasil em Brasília 21/10/201417h15
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