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segunda-feira, 16 de março de 2015

A DEMOCRACIA ACOSSA A POLÍTICA

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Em 1985, apostando no fim do arbítrio, milhares saíram às ruas no movimento “Diretas-Já”, que não logrou êxito em um Congresso ainda servil à ditadura militar. Em 1989, morta a ditadura, o Brasil realizou eleição direta para presidente da República.
Em 1992, os estudantes foram às ruas pedir o impeachment do presidente Collor. O movimento ficou conhecido como os “Caras-pintadas”.
Em 1999, contra a política econômica e as privatizações promovidas pelo governo FHC, o Brasil foi palco do maior movimento generalizado desde as “Diretas-já”.
O “Fora FHC”, liderado pelo PT e PDT, dividia a oposição entre os que pediam o impeachment e os que queriam a renúncia de FHC. Outros pregavam que o Congresso Nacional deveria, simplesmente, decretar o fim do mandado do presidente da República.
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O “Fora FHC”, afirma o deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ), era discutido politicamente. Hoje, opina, há “raiva”.
Arrisco uma explicação: o “Fora FHC” era conduzido por políticos. Hoje, embora articulado politicamente, o movimento é de massa e essas se deslocam por paixão. Turbina o mau humor, o esgotamento do sistema político atual, que insiste em não perceber que necrosou, aliado à futebolística dualidade PT-PSDB que se instalou na nação.
Em 2013 o Brasil viu o maior movimento de rua da sua história: o “Levante de Junho”.
Ter esquecido aquela convulsão tão logo arrefeceu foi um erro da intelligentsiaestabelecida. Outro erro foi achar que o movimento era difuso: o status quoqueria uma pauta tradicional (!!) e não percebeu que ela estava escrita nos milhares de cartazes portados pela turba.
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Insisto na tese de que nós, os políticos, somos chorume de um sistema necrosado. Se continuarmos produzindo fedor, pronto virá o dia em que a cabeça que portamos será separada do pescoço que a sustenta com temerária e insensata resiliência.
Ontem, 15 de março, segundo informes das policias militares, foram às ruas de 1,5 milhão a 2 milhões de pessoas. Cerca de 1 milhão se concentrou na cidade de São Paulo e o restante marcharam em, pelos menos, 23 estados e no DF.
Pelo menos ou pelo mais, não é lícito dizer que os protestos são da elite. Olhar o movimento dessa forma é agir como o pior cego do ditado: o que não quer ver.
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Na pauta há um déjà vu de 1999, mas há um elemento de alta octanagem acrescido hoje, que é a percepção apurada da corrupção. Embora proceda, é inodoro alegar que, da mesma forma, roubos havia antanho, pois o mundo, cada vez mais, é o agora. Como o moinho se move com a água imediata, é essa que mata a sede do povo.
Se mais uma vez a classe política insistir em reduzir os protestos aos elementos de classe, como se a insatisfação popular fosse uma pirâmide com câimbra, só adiará o anseio para um próximo capítulo que tende a se avolumar: a multidão se despediu prometendo voltar em abril.
A Nova República é natimorta porque concebida no ventre do patrimonialismo, primo-irmão da ditadura, apenas vestido em trajes civis. O Brasil precisa inaugurar a transparência democrática, através de um sistema republicano eficaz. Para isso não é necessário provar a quadratura do círculo. Basta que todos, eu disse todos, façam a coisa certa. E sabemos, perfeitamente, do certo o errado distinguir, mesmo porque esses princípios não são sistemáticos, mas filosóficos e naturais.
Tanto sabemos diferenciar o certo do errado, que o joio podre e bêbado que prega a volta da ditadura não se consegue misturar ao trigo que cresce na afirmação da democracia e se isola no seu próprio anacronismo.
Portanto, viva a democracia!

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