Leio tudo o que vejo sobre o Oriente Médio. Como o meu bisavô era sírio e a minha bisavó turca, as histórias desses dois países, em particular, chamam mais a minha atenção.
Matéria do Globo.com, repercutindo o Les Temps, da Suíça, reporta a tragédia da Síria após quatro anos de uma guerra que os líderes mundiais, envolvidos com os seus quiproquós domésticos, fingem que não é com eles.
Até janeiro de 2015, 220 mil pessoas foram mortas e 11 milhões, dos 20 milhões de sírios, se deslocaram dos seus lares.
Dos 11 milhões, 7,1 milhões se deslocaram domesticamente e 3,9 milhões emigraram aos países vizinhos: é o maior êxodo da história moderna e a mais grave crise humanitária dos últimos 20 anos, segundo a ONU.
Dos refugiados, segundo a Unicef, dois milhões são crianças que, além de expostas à brutalidade da guerra, são pasto para o Estado Islâmico, que as recruta para o seu exército.
O que ocorre na Síria é como se no Brasil, em quatro anos, fossem executadas dois milhões de pessoas, se deslocassem de seus lares 110 milhões e deixassem o país 39 milhões, o que seria uma hecatombe.
Com o conflito, a economia síria acometeu-se de uma anemia que levou 80% da população para a zona de pobreza. O desarranjo do país é tão grave que os serviços públicos, narra a matéria, depauperaram “a expectativa de vida de 75,9 anos, em 2010, para 55,7 anos, no final de 2014”.
Relatório da ONU conta que “há 7,8 milhões de sírios homiziados em zonas de difícil acesso para a entrega de assistência” e o Human Rights Watch narra que os grupos de poder pelejam entre si sem proteger os civis, usando “com frequência, bombas-barril, que são carregadas com explosivos e pedaços de metal e lançadas de helicópteros”.
Dominam hoje a Síria quatro ditaduras distintas e antagônicas: Bashar al-Assad, com suporte da maioria alawita, a elite síria, que se aquartela na borda Oeste, dominando as maiores cidades do país (a capital, Damasco, Aleppo e Hama); esta área, todavia, é minada pelo Exército Livre da Síria (ELS), formado pelos grupos que começaram as escaramuças contra al-Assad; o Nordeste do país está tomado pelos loucos terroristas do Estado Islâmico (EI), que sediam suas forças em Hasakah e Haqqa; esta área, todavia, é minada, com menos intensidade que a resistência do ELS a Oeste, pelos curdos.
Como a economia síria se faz pelas bordas Norte e Oeste, nos rumos do centro, até as bordas Sul e Leste, um vazio territorial se fez e é exatamente para aí que se deslocou o êxodo interno.
O êxodo externo é recepcionado pela Turquia, principalmente os corridos do EI; pelo Líbano e Egito os tocados pela ditadura de al-Assad e as suas escaramuças com o ELS; os que conseguem atravessar o inóspito centro, rumo ao Sul, são recepcionados pelo Iraque e pela Jordânia.
Não há perspectiva de arrefecimento da guerra enquanto uma coalizão mundial não acertar um basta, pois cada grupo interno é financiado pelo sectarismo secular das tribos que formaram a tez neurológica dos países que formam o Oriente Médio, à ilharga dos interesses antagônicos dos blocos de poder do eixo Leste-Oeste que ditam as políticas externas do Ocidente.
A Rússia é aliada de al-Assad. Os EUA não o querem, mas o surgimento do EI obriga-os a aturá-lo, pois os alawitas se opõe ao EI. Al-Assad não tem a menor intenção de derrotar o EI, apenas combatê-los, pois a aniquilação do EI na Síria deixaria os EUA à vontade para o próximo passo, que seria fazer com al-Assad o que fez com o ditador Líbio.
Esta é a ciranda do terror estabelecido na Síria. Abaixo, um vídeo de “O Globo”, com dados sobre o conflito:
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