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sábado, 21 de fevereiro de 2015

CATÓLICOS REVOLTADOS COM VENDA DA CASA DOS PADRES


Paróquia de São Raimundo Nonato, que era conhecida como “Casa dos Padres”DIOCESE DE SANTARÉM VENDEU IMÓVEL PARA A CONGREGAÇÃO DOS MISSIONÁRIOS DO VERBO DIVINO
 
Paróquia de São Raimundo Nonato, que era conhecida como “Casa dos Padres”

Os moradores católicos do bairro da Aldeia, em Santarém, no Oeste do Pará, procuraram nossa reportagem para mostrar revolta e indignação com a venda de um prédio localizado na Avenida Tapajós, esquina com a Travessa Silva Jardim, no bairro da Aldeia, que pertencia à Paróquia de São Raimundo Nonato, que era conhecida como “Casa dos Padres”.

Nesse local várias ações beneficentes eram desenvolvidas pelo Conselho da Pastoral da Comunidade de São Raimundo Nonato, composta por 10 voluntários. Na Casa dos Padres funcionava a Sala de Catequese da Paróquia, Pastoral da Saúde, Alcoólicos Anônimos, Projeto Bete Bruno (ligado à Pastoral da Saúde, onde se produziam medicamentos homeopáticos). Também existia um consultório médico para atender os moradores do bairro e pessoas que moram nas regiões de rios, sendo que este atendimento era feito pelo médico Rubem Dourado. Vários encontros de catequese também aconteciam semanalmente no local.

Tudo isso deixou de funcionar e de ser realizado após a Diocese de Santarém ter vendido o imóvel para a Congregação do Verbo Divino. Os padres que agora são os novos proprietários do imóvel decidiram acabar com esse serviço voluntário. Os membros do Conselho da Pastoral da Comunidade de São Raimundo Nonato procuraram por várias vezes o Pároco da Igreja, Padre Henry Mendonça, que é de origem indiana, para tentar convencê-lo a não acabar com esse serviço, mas todas às vezes foram rechaçados pelo Padre.

Um dos membros do Conselho da Pastoral, que preferiu não se identificar com medo de sofrer represálias, informou que com o Padre Henry Mendonça não existe diálogo, ele não escuta ninguém. Tal fato revoltou os dez membros do Conselho da Pastoral, que decidiram abandonar a Instituição. Segundo essa pessoa, o Conselho da Pastoral investiu cerca de R$ 30 mil em equipamentos e móveis e, simplesmente após a Congregação do Verbo Divino adquirir o imóvel, decidiu fazer uma reforma no prédio e esses equipamentos e móveis estão sendo deteriorados com a poeira da obra do prédio.

Hoje quando os moradores do bairro e das regiões de rios se dirigem à “Casa dos Padres” em busca desses serviços, encontram o local fechado e ninguém dá informação. Muitos se dirigem ao escritório da Paróquia, que fica ao lado da Igreja de São Raimundo Nonato, sujeitos ao sol e chuva, pois o local é pequeno e não oferece condições adequadas aos comunitários, mas mesmo assim não estão conseguindo esses serviços.

Todos querem saber quem autorizou a venda do imóvel e onde foi aplicado esse dinheiro. Nossa reportagem tentou falar com o Pároco da Igreja de São Raimundo Nonato, Padre Henry Mendonça, para saber o seu pronunciamento sobre essa questão, mas não obtivemos êxito, porém, o espaço está aberto para qualquer esclarecimento.

Só para lembrar, esse prédio é antigo e um dos cartões postais de Santarém, pois a “Casa dos Padres” é uma referência para quem chega do interior e de outras cidades vizinhas. Agora, será mais um patrimônio histórico do Município que se vai.

PATRIMÔNIO HISTÓRICO: Criado com o objetivo de promover o estudo, a pesquisa e a divulgação da História, da Geografia, da Arqueologia e demais ciências correlatas na região oeste do Pará, conforme rege em seu estatuto, o Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTap), instituição de caráter científico e cultural, condena as ações que atentam contra a memória do povo desta região. Para a diretoria do Instituto, a insensibilidade e a especulação imobiliária estão levando à depredação do nosso patrimônio arquitetônico. Tais práticas afetam o que resta de prédios e monumentos históricos de nossas cidades.

Santarém, de acordo com o Instituto, do alto de seus mais de 350 anos de história, ainda está perplexa com cenas chocantes difundidas pelos meios de comunicação, da derrubada criminosa de um desses prédios localizados no centro histórico da cidade, o conhecido Casarão Tapajônico, pertencente à família Macambira e que foi construído no final do século XIX. Artistas locais realizaram, inclusive, um protesto contra esse crime e outras instituições já se unem para se manifestar contra toda essa situação.

Desde 2009, pesquisadores de Santarém realizam eventos em parceria com instituições de ensino e órgãos da Prefeitura Municipal de Santarém, visando resgatar a importância destes espaços em meio ao crescimento da especulação imobiliária no centro histórico da cidade. Desse trabalho, já foram organizados catálogos descritivos de mais de 100 prédios que teriam valor histórico e cultural, a maioria deles pertencentes a famílias tradicionais, mas que se encontram abandonados.

“De lá para cá, nada foi feito para evitar que alguns destes casarões fossem desfigurados ou demolidos, como o já citado Casarão Tapajônico”, critica o IHGTap.

Segundo o Instituto, essas pesquisas contribuíram para que Santarém pudesse ser incluída no PAC/CH (Programa de Aceleração do Crescimento/Cidades Históricas), através do Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, órgão do Governo Federal, o que resultou, inclusive, na liberação de recursos que hoje são utilizados na recuperação do nosso Centro Cultural João Fona.

Apesar de ainda não constar da lista das 44 cidades históricas do Brasil que recebem maiores investimentos deste programa, Santarém faz parte da lista de nove cidades consideradas históricas pelo Iphan/PA, juntamente com Afuá, Belém, Belterra, Bragança, Cametá, Óbidos e Vigia.

Há registros de que durante esse levantamento e catalogação de prédios históricos realizado nos últimos cinco anos, foi definido pelos então membros do Conselho Municipal de Cultura, providências para o tombamento de prédios no perímetro entre as avenidas Rui Barbosa e Tapajós, Barão do Rio Branco e Adriano Pimentel, onde se concentra o maior número de edificações com valor histórico. Sendo, que a “Casa dos Padres” está incluída nessa área.

“A atual gestão da Prefeitura até chegou a criar, na Secretaria Municipal de Cultura, uma Divisão do Patrimônio Histórico, que até hoje só produziu um manual de tombamento de prédios, ainda sem utilização concreta”, aponta o IHGTap.

Além disso, o Instituo revela que há informações oficiais de que foram apresentados projetos junto ao Iphan para a recuperação de alguns logradouros históricos, como a Praça Barão de Santarém (São Sebastião), Praça do Centenário (São Raimundo), Igreja Nossa Senhora Assunção (Vila Franca, rio Tapajós), antigo Cristo Rei (Av. Barão do Rio Branco – Centro), Igreja Nossa Senhora da Saúde (Alter do Chão), Igreja de Nossa Senhora de Santana (Arapixuna), Igreja de Santo Inácio de Loiola (Vila de Boim – rio Tapajós), Praça Rodrigues dos Santos, sitio arqueológico da Vera Paz e centro histórico de Santarém.

“Em que pese tais iniciativas, o que se percebe é que muito pouco ou quase nada foi feito para impedir a atual situação de destruição de alguns prédios do centro histórico de Santarém. A morosidade nessas decisões legislativas e a omissão do Poder Executivo são inexplicáveis e devem receber a prioridade que a atual situação exige. Com a demolição do Casarão Tapajônico, entre outros atentados ao Patrimônio Arquitetônico, Histórico e Cultural de Santarém, vai-se nossa história, nossa identidade”, analisa o IHGTap.

DEPRECIAÇÃO: De acordo com o Instituo Histórico e Geográfico, em todo o Oeste do Pará existe um patrimônio histórico, artístico e cultural que vem sofrendo grande pressão das iniciativas econômicas que se implementam na região. Santarém, Óbidos e Monte Alegre, só para citar cidades já com pesquisas no campo do patrimônio, acompanham um processo acelerado de depreciação dos marcos materiais de suas histórias. “Para nós, esse processo deve ser enfrentado e revertido. É preciso, e com urgência, iniciar campanhas, através das prefeituras, pela compreensão da importância para a identidade de uma região, do respeito, preservação e ressignificação de seu patrimônio histórico”, alerta a diretoria do IHGTap.

Só nos resta torcer para que o Padre Henry Mendonça se comova com o sofrimento dos moradores do bairro da Aldeia e regiões de rios e, volte atrás para reativar esses serviços sociais à comunidade.


Fonte: RG 15/O Impacto

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