O
Carnaval acabou e a presidente Dilma Rousseff sai do belo mar da Bahia para
mergulhar em dois desafios urgentes que viraram prioridade na lista de
problemas gigantescos que ela tem pela frente.
Um
é a derrota na flexibilização das regras trabalhistas e previdenciárias no
Congresso. Outro é o encontro apimentado entre o ministro da Justiça e o
advogado de uma das empreiteiras usadas para financiar a eternização do PT no
poder, via Petrobrás.
É
próxima de zero a chance de Dilma e de seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy,
aprovarem na íntegra as mudanças nas pensões por morte, no auxílio-doença, no
abono salarial, no seguro-desemprego e no seguro-defeso. E não porque a
oposição tenha essa força toda, mas porque a própria base de Dilma - a começar
pelo PT - trabalha contra o pacote.
O
problema nem está efetivamente nas medidas, alinhavadas na surdina pela equipe
econômica petista do primeiro mandato e apenas sendo "lavadas" por
Levy, que não teve nenhum problema em assumi-las.
As
medidas fazem sentido. Não se pode confundir alhos com bugalhos, nem democracia
com democratice, nem direitos com privilégios absurdos. Se a oposição quiser
fazer oposição séria e se a base aliada quiser mudanças responsáveis, têm de reconhecer
que muita coisa no pacote é necessária.
É
importante haver um colchão de proteção para os mais frágeis e para situações
específicas, mas há evidentes exageros que favorecem espertalhões e oneram a
maioria dos contribuintes. Exemplo caricato: o sujeito de 80 anos casa-se com
uma moçoila de 20 e o povo brasileiro tem de pagar pensão eterna para a viúva
alegre. Ótimo negócio às nossas custas.
Mas,
além de a oposição viver atarantada, a base aliada estar às turras com o
Planalto e o PT sacar do populismo em momentos hostis, há outros problemas
efetivamente graves atravancando o caminho do pacote de Dilma, previsto para
economizar R$ 18 bilhões por ano.
O
maior obstáculo é exatamente Dilma: ela esbanjou no ano eleitoral e agora quem
paga a conta? E aquele personagem da campanha que acusava a oposição de querer
massacrar os pobres e jurava não mexer na legislação trabalhista nem que a vaca
tossisse? A novela acabou, caiu a fantasia. Mas o público não esqueceu.
O
segundo obstáculo é o PT. Com a imagem arranhada pelo mensalão, pela Petrobrás
e pelo governo Dilma, quer salvar a própria pele. Com Lula e o partido fortes,
eles aprovavam tudo no Congresso. Com Dilma e o partido ladeira abaixo, fica
difícil convencer a opinião pública, a Câmara e o Senado da necessidade de
reduzir direitos (mesmo mamatas) de trabalhadores e pensionistas. As
perspectivas do pacote não são nada animadoras.
Em
relação à conversa entre o ministro José Eduardo Cardozo e o advogado Sérgio
Renault, que defende a UTC, empreiteira atolada nos escândalos da Petrobrás:
quanto mais o governo e o ministro tentam explicar, pior fica.
Relatada
pela Veja e intermediada pelo advogado e ex-deputado do PT Sigmaringa Seixas, a
conversa não foi nada edificante para processos republicanos. Cardozo, chefe da
Polícia Federal, teria "tranquilizado" os interlocutores, antecipando
que tudo começaria a mudar na Operação Lava Jato. Aliviados, eles já tomaram
providências. O homem da UTC na cadeia desistiu da delação premiada, que
empurraria o PT ainda mais para o fundo do poço e poderia chegar sabe-se lá
onde - ou em quem.
E
agora? O que vai mudar? Como, onde, por que e para quem?
O
carnaval passou e, na Quarta Feira de Cinzas, Dilma continua num mar revolto,
cheio de tubarões. Os mais devoradores são justamente o PT, os
"aliados" e Sua Excelência, o fato. Com tubarões assim, quem precisa
de oposição de dentes afiados?
Por
Eliana Cantanhede
Por:
ercio
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