O Estado de S. Paulo
O perfil das usinas cadastradas para o
próximo leilão de energia, marcado para 30 de abril, reflete a crescente
dependência da geração térmica para suprir a demanda nacional. E também
escancara uma realidade que atormenta o governo e o planejamento do setor
elétrico: a incapacidade de licitar grandes projetos hidrelétricos na Amazônia.
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE)
recebeu inscrições de 91 projetos de novas usinas para o leilão conhecido como
"A-5", modalidade usada para contratar empreendimentos que entrarão
em operação daqui a cinco anos. Desse total, apenas sete são hidrelétricas -
nenhuma delas na Amazônia.
Anualmente, a EPE prepara o chamado Plano
Decenal de Energia, documento que lista os projetos de energia que deverão
entrar em operação nos próximos dez anos. Até dois anos atrás, o planejamento
previa pelo menos sete grandes hidrelétricas para a Amazônia, empreendimentos
que ultrapassam 13 mil MW de potência e tinham previsão de serem viabilizados
até 2020. No plano decenal deste ano, restou apenas uma dessas usinas na lista,
a hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, no Rio Tapajós. Sem licença ambiental,
São Luiz ficou de fora do leilão de abril.
"Colocamos no leilão os projetos que têm
condições de realmente participar do leilão, apesar de só Itaocara ter licença
neste momento", disse o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, ao Estado.
"Estamos entrando com outras fontes.
Temos visto que as usinas térmicas são importantes para compensar as outras
fontes variáveis, como eólica, solar e a própria hídrica. O importante é que o
suprimento não será afetado. Vamos diversificar mais a matriz elétrica, mas o
abastecimento está garantido", acrescentou.
O leilão "A-5" é o que tem o maior
prazo para construção, usado justamente para viabilizar obras complexas e de
grande porte. Não é o que se vê na lista dos projetos hidrelétricos que pediram
habilitação à EPE.
Muito longe da Amazônia, é no Paraná que se
concentram quatro candidatas ao leilão: as hidrelétricas de Apertados e
Ercilândia, no Rio Piquiri; e de Telêmaco Borba e Tibagi Montante, no Rio
Tibagi. As outras três usinas estão previstas para Minas Gerais (Davinópolis),
Tocantins (Perdida 2) e Rio de Janeiro (Itaocara).
Para complicar ainda mais a situação, apenas
o projeto fluminense de Itaocara tem, neste momento, licença prévia ambiental -
documento obrigatório para qualquer hidrelétrica que queira participar de um
leilão de energia. A menos de três meses para a realização da concorrência, são
pequenas, portanto, as possibilidades de esses projetos estarem prontos a tempo
de entrar no leilão.
A frustração da geração hidrelétrica fica
ainda mais evidente quando verificada a potência total oferecida por esses
empreendimentos. Se as sete usinas fossem contratadas em abril - hipótese
difícil de ocorrer -, o leilão somaria apenas 649 megawatts (MW) de geração
hidrelétrica.
Isso é praticamente a potência de uma única
turbina de Belo Monte, a mega-hidrelétrica em construção no Rio Xingu, no Pará,
no coração da Amazônia.
Lava Jato. A complexidade ambiental não é a
única dificuldade enfrentada pelo governo para tirar do papel grandes
hidrelétricas. Na avaliação do presidente da consultoria especializada em
energia Comerc, Cristopher Vlavianos, os novos projetos também estão ameaçados
por causa de dificuldades financeiras e envolvimentos com esquemas de corrupção
no entorno das principais empreiteiras do País.
Essas empresas participam hoje de
praticamente todas as grandes obras de energia, seja como sócias ou como
prestadoras de serviço. "Essas complicações envolvem ainda um cenário ruim
para tomada de crédito, sem contar o alto risco desses projetos. É difícil
imaginar o apetite do investidor para entrar em projetos que, muitas vezes,
parecem aventura", diz.
Por: Marcos Santos
Nenhum comentário:
Postar um comentário