Jejum e penitência. É esse o tempo que a
Igreja Católica escolhe para fazer com que todos se convertam a partir de um
tema trazido pela sociedade, refletido à luz da Palavra de Deus e vivido em
gestos concretos capazes de ajudar a transformar a sociedade.
Cada Campanha, dura em torno de três anos: Um
ano para a preparação dos materiais, um ano para o seu lançamento na Quaresma,
oração e reflexão e um ano para execução dos projetos que serão realizados com
os recursos do gesto concreto da Coleta da Solidariedade realizada no Domingo
de Ramos.
O método para a realização da Campanha é o
VER, JULGAR e AGIR. Ver o que está acontecendo na realidade complexa da vida,
julgar à luz da Palavra de Deus e exercitar a fraternidade com gestos concretos
A Quaresma é o tempo que a Igreja no Brasil
realiza a Campanha da Fraternidade que este ano tem como Tema: Fraternidade,
Igreja e Sociedade e como Lema: “ Eu vim para servir” (Mc 10, 45)
A Campanha da Fraternidade de 2015 nos convida
a refletir, meditar e rezar a relação entre Igreja e Sociedade.
Objetivo geral
Aprofundar, à luz do Evangelho, o diálogo e a
colaboração entre a Igreja e a sociedade, propostos pelo Concílio Ecumênico
Vaticano II, como serviço ao povo brasileiro, para a edificação do Reino de
Deus.
Objetivos específicos
Fazer memória do caminho percorrido pela
Igreja com a sociedade, identificar e compreender os principais desafios da
situação atual.
Apresentar os valores espirituais do Reino de
Deus e da doutrina Social da Igreja, como elementos autenticamente
humanizantes.
Identificar as questões desafiadoras na
evangelização da sociedade e estabelecer parâmetros e indicadores para a ação
pastoral.
Aprofundar a compreensão da dignidade da
pessoa, da integridade da criação, da cultura da paz, do espírito e do diálogo
inter-religioso e intercultural, para
superar as relações desumanas e
violentas.
Buscar novos métodos, atitudes e linguagens
na missão da Igreja de Cristo de levar a Boa Nova a cada pessoa, família e
sociedade.
Atuar profeticamente, à luz da evangélica
opção preferencial pelos pobres, para o desenvolvimento integral da pessoa e na
construção de uma sociedade justa e solidária.
Subsídios para a Campanha:
A Oração, o Hino, o Texto Base, Cartaz, CD,
DVD, Subsídios para a Educação, entre outros.
Cartaz: O cartaz da CF 2015 retrata o Papa
Francisco lavando os pés de um fiel na Quinta Feira Santa de 2014. A Igreja
atualiza o gesto de Jesus Cristo ao lavar os pés de seus discípulos.
O lava-pés é expressão do amor que todo ser
humano é amado por Deus em Jesus Cristo.
Pela morte e ressurreição, Jesus levou à
plenitude o “ Eu vim para servir”.
O Concílio Vaticano II veio lembrar que a
Igreja evangeliza pelo testemunho, dialogando com as pessoas e a sociedade. No
diálogo ela está a serviço de todas as pessoas.
Como servidora ela participa da construção de
uma sociedade justa, fraterna, solidária e pacífica. É pelo serviço que a
Igreja edifica o Reino de Deus aqui na terra.
1- BREVE HISTÓRICO DAS RELAÇÕES IGREJA E
SOCIEDADE NO BRASIL
1.1.Das origens à Cristandade
As origens do Cristianismo estão radicadas na
vida, pregação, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Ele assumiu e viveu a
cultura de seu povo, participando ativamente dos problemas daquela sociedade.
Os seus discípulos viam em Jesus a realização
das expectativas messiânicas presentes na fé e tradição do povo de Israel.
As primeiras comunidades cristãs sofreram e
foram perseguidas, mas o exemplo dos mártires as tornava ainda mais unidas. O
cristianismo fortalecido por este testemunho cresceu e se espalhou pelo mundo
daquela época.
A cristandade
Alguns séculos mais tarde, para suprir
carências da sociedade civil, a Igreja, já mais bem estruturada, pôde servir na
construção da civilização europeia, após a desarticulação das estruturas do
Império Romano.
Esta nova configuração sociocultural
desenvolvida no continente europeu, com a participação expressiva da Igreja na
sociedade civil, ficou conhecida como Cristandade.
A principal característica dessa sociedade é
que a vida das pessoas e das instituições era organizada com inspiração cristã.
Este modelo social vigorou durante a Idade Média.
No século XVI ocorreram fatos de grande
repercussão e forte implicação na sociedade da época, a ponto de gerar crise e
abalar as bases da chamada Cristandade.
Entre estes, são dignos de nota a Reforma
Protestante e o Humanismo. A Reforma introduziu uma fratura no cristianismo. O
Humanismo reivindicava uma sociedade articulada sobre bases humanas e não a
partir de conteúdos da fé.
Com esta crise, e devido à ameaça dos árabes,
o Papado intensificou as relações com os Reinos de Portugal e da Espanha, nos
quais o espírito da Cristandade permaneceu mais forte.
Esta aliança resultou no Padroado, um modo de
relação entre a Santa Sé e o Estado Português, que conferia ao monarca a tarefa
de defender a fé e o direito de intervir em assuntos eclesiásticos, como
nomeação e manutenção de clérigos e fundação de dioceses. Cabia também ao
monarca português enviar missionários e gerir os trabalhos eclesiásticos
realizados no Brasil.
Cf. BALDISSERI, L; MARTINS, I. G. M.
(coord.). Acordo Brasil-Santa Sé comentado. São Paulo: LTr Editora, 2012. pp.
76-77.
O regime do Padroado não impediu que a Igreja
desenvolvesse sua missão na Terra de Santa Cruz com espírito missionário, junto
aos habitantes deste novo mundo. A título de exemplo, os jesuítas, tão logo
chegaram, foram morar com os índios em aldeias. Estudaram sua língua, na época
chamada “brasílica”.
Houve uma verdadeira saída de si ao encontro
do outro por parte dos missionários. Eles amaram e valorizaram a Terra de Santa
Cruz e difundiram a ideia de que se tratava de um lugar de salvação.
Desenvolveram obras de aldeamento em proximidade aos primeiros colégios aqui
instalados.
A missão da Igreja durante o povoamento do
Brasil não ficou restrita aos missionários clássicos. Os cristãos leigos e
leigas também exerceram um importante papel evangelizador.
Por exemplo, as confrarias leigas, mucamas e
donas-de-casa, músicos e cantadores populares, e, ainda, os ermitães e os
denominados irmãos, beatos e beatas, quilombolas e outros. A ação dessas
pessoas contribuiu na formação do catolicismo vivido pela grande maioria do
povo brasileiro.
Com a proclamação da Independência do Brasil
em relação ao Reino de Portugal, em 1822, Dom Pedro I foi aclamado Imperador.
Em 1824, o Estado imperial nascente ganhou uma Constituição, que, a exemplo do
Reino Português, reconheceu a “Religião Católica Apostólica Romana” como
religião oficial do Império Brasileiro.
O Estado Monárquico nascente se mostrava
precário e desarticulado nessa função. Muitos bispos e padres tiveram papéis de
destaque na administração imperial, chefiando cargos públicos, aconselhando os
Imperadores e personalidades políticas, mediando conciliações durante os
conflitos e revoltas civis.
No entanto, o sistema régio do Padroado
trouxe inúmeros descontentamentos à Igreja, sendo um dos motivos do apoio de
muitos eclesiásticos ao movimento militar que extinguiu a Monarquia e implantou
o sistema republicano em 1889.
O Padroado Régio chegou ao fim por meio da
Constituição Republicana de 1891.
1.4. Os desafios da primeira metade do século
XX
Entre as décadas de 1930 a 1950, a Igreja
deparou-se com situações inéditas que impunham novos desafios pastorais. Eles
decorreriam de ideias revolucionadoras, de novos movimentos sociais e culturais
e de transformações sociais e econômicas em curso na sociedade.
A resposta da Igreja aos grandes desafios
veio na forma de várias iniciativas organizacionais, entre as quais: a atuação
da recém-criada Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em 1952, as
mobilizações dos leigos, por meio da Ação Católica Especializada, em várias
dimensões sociais, o Movimento de
Educação de Base (MEB) e os sindicatos rurais
de inspiração eclesial.
Dentre as respostas ainda merecem especial
destaque o I e o II Encontro de Bispos do Nordeste, realizados em Campina
Grande (PB), em 1956 e 1959. Neles, os bispos, com a ajuda de especialistas,
empreenderam uma ampla análise da situação regional.
A experiência eclesial adquirida nos anos 1950
foi fortalecida com a criação da Conferência Episcopal Latino-Americana
(CELAM), pelo Papa Pio XII, em 1955.
A presença pública da Igreja ampliou-se junto
à sociedade com o Congresso Eucarístico Internacional do Rio de Janeiro, o
Encontro Internacional da Ação Católica e a criação da coordenação nacional de
catequese.
Esta experiência da Igreja no Brasil, em
proximidade da realidade e de seus desafios, preparou-a para receber, de
maneira privilegiada, as propostas do Concílio Vaticano II.
Ao final de conturbado período político, após
a renúncia do presidente Jânio Quadros e a ascensão de João Goulart, a Igreja
participou ativamente da mobilização popular que culminou com o movimento
militar de 1964
Com a implantação e continuidade do regime
militar, no final da década de sessenta e início dos anos 70, em pleno período
da repressão, a Igreja deparou-se com outros desafios e novas situações na
sociedade brasileira.
Naquele momento, eles eram oriundos sobretudo
do avanço da industrialização, do agravamento dos problemas sociais, tanto no
campo como nas cidades, da ditadura militar e de uma verdadeira ebulição
cultural nos grandes centros urbanos.
A Igreja, nesse período, respondeu com as
primeiras experiências de Pastorais Sociais, como a Comissão Pastoral da Terra
(CPT), a Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP), o Conselho Indigenista
Missionário (CIMI) e com as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), entre outros.
A CF. Em 1964, ela foi realizada em âmbito nacional.
Na década de setenta, a Campanha da Fraternidade
foi um veículo para denúncias e debates relativos a temáticas sociais do
momento, como: migração, trabalho, fome, moradia e outros. Em 1974, em plena
ditadura militar, propôs o tema: Reconstruir a vida, e o lema: Onde está o teu
irmão?
Em 1976, por quase unanimidade, a Assembleia
Geral do episcopado aprovou o documento “Exigências cristãs de uma nova ordem
política”, demonstrando a sintonia da Igreja com os acontecimentos do período.
Este documento traduzia a experiência da
Igreja no período de oposição ao regime de militar, como o seu empenho pela
recuperação das liberdades individuais e institucionais.
1.6. Desafios da redemocratização da
sociedade
No final da década de 1980, a Igreja Católica
acompanhou e participou ativamente do processo de redemocratização do Brasil.
Os movimentos pela abertura política, entre
eles o da Anistia e “Diretas Já”, encontraram na Igreja um abrigo seguro para
sua articulação.
Processo constituinte, a Igreja atuou com
empenho visando a consolidação de estruturas democráticas na sociedade
brasileira.
A CNBB, por meio do Setor Pastoral Social,
passou a coordenar as novas iniciativas surgidas com essa perspectiva, com as
pastorais: carcerária, da criança, do menor, dos migrantes e da mulher
marginalizada.
Estas realidades desafiadoras exigiam da
solicitude social da Igreja mais contundência e uma ação evangelizadora com
foco específico.
No final do século XX e início do século XXI,
a participação social e política da Igreja na sociedade brasileira prosseguiu
por meio de diversos organismos e pastorais, entre os quais os Novos Movimentos, as
Comunidades Eclesiais de
Base, as Pastorais Sociais, o Movimento Fé e Política,
as Semanas Sociais e o Grito dos Excluídos.
Contudo, não obstante os desafios, a Igreja,
animada pelo Espírito de Jesus, se revigora nas inúmeras comunidades eclesiais
e nos trabalhos imprescindíveis que presta ao povo brasileiro.
A visita do Papa Francisco ao Brasil, por
ocasião da Jornada Mundial da Juventude em 2013, na cidade do Rio de Janeiro,
foi um momento de grande participação popular, manifestação de fé e
revigoramento para a Igreja, em sua missão e participação ativa no serviço à
sociedade.
Por: Irmã Aparecida
Seg, 01 de Dezembro de 2014
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